Dália Azul (The Blue Dahlia, 1946)

Já que finalmente estamos quase chegando às vias de fato da estréia de Dália Negra do Brian De Palma, um dos filmes mais aguardados do ano (pelo menos por mim), falarei do filme que tem uma pequena ligação com este: o Dália Azul de George Marshall.
Esse noir do pós-guerra que foi um grande sucesso na época de seu lançamento, foi o único roteiro escrito exclusivamente para cinema por Raymond Chandler (o pobrecito trabalhou como adaptador de Pacto Sinistro de Hitchcock e Pacto de Sangue do Billy Wilder), um dos papas da literatura policial e, ao lado de Dashiel Hammett, um dos grandes responsáveis pela criação do gênero noir no cinema baseado em seus livros.
Mas qual é exatamente a ligação deste filme com o assassinato da Dália Negra? Este filme ainda estava muito em voga quando descobriram o corpo de Elisabeth Short esquartejado, no filme o nome Dália Azul trata-se da casa noturna onde a esposa infiel de Johnny (Alan Ladd) freqüenta e da flor com que ela gosta de decorar a casa, além do seu amante ser o dono da tal casa noturna que por sua vez tem como esposa Joyce (Veronica Lake), há umas tantas ocorre um assassinato e daí já viu onde vai parar este quadrado amoroso… Particularmente não vejo muitas semelhanças entre o filme Dália Azul e o assassinato de Elisabeth Short, o que mais nos remete é mesmo o comportamento autodestrutivo e promíscuo no papel da esposa interpretada por Doris Dowling, talvez por isso os tablóides de Los Angeles deram esse apelido ao caso, mas o negra de Short devia-se a sempre se vestir de negro nas suas caçadas noturnas (e nas diurnas também, oras) e seus cabelos serem volumosamente encaracolados nos remetendo à flor, sem falar que ela tinha uma vida de personagem noir completa. Enfim, o Dália Azul é um ótimo filme, mas não chega a ser um dos ápices do gênero.

Nota 1: Nem é preciso dizer que L.A. Confidential (ainda o considero um dos melhores filmes dos anos 90 e com um elenco inacreditável) é baseado num livro do Ellroy (escrito depois do Dália, já que este foi o primeiro livro que escreveu baseado na sua obsessão pelo caso Elizabeth Short), para quem não lembra, no filme do Curtis Hanson Kim Bassinger tenta encarnar Veronica Lake e assiste filmes com a mesma. Eu, particularmente, acho Kim Bassinger muito mais linda e arrasadora que Veronica Lake (segundo o Russell Crowe, como Bud White, também).

Nota 2: Em virtude da qualificação de Ellroy em mesclar ficção e realidade, no L.A. Confidential até rola um momento histórico memorável: um encontro entre Johnny Stompanato (do clã mafioso do Mickey Cohen que era comparsa do Bugsy Siegel que por sua vez foi comparsa do Lucky Luciano – amo a história da máfia!) e Lana Turner. Para quem não lembra o mafioso foi morto oficialmente pela filha de 14 anos de Lana (isso é para rir, não?), mas reza a lenda que a menina se entregou para a mãe não ir para cadeia e que teria sido Lana que o matara.The Blue Dahlia (1946) Ladd & LakeNota 3: O diretor George Marshall foi um dos workaholics do cinema mudo na fundação de Hollywoodland e, por coincidência ou não, esse é um dos períodos retratados dentre as ramificações na trama do livro Black Dahlia de Ellroy.

Nota 4: Quem sabe com o lançamento do filme do De Palma, não lancem esse filme finalmente em DVD? Nem nos EUA foi lançado ainda, pelo menos não até pouco tempo atrás, embora anda rolando uma versão para venda por lá, mas digamos que não é “oficial”.

Nota 5: Essa adaptação estava nas mãos do David Fincher por anos, depois ele desistiu para fazer Zodiac. Quem saiu ganhando fomos nós: duas grandes lendas da psicopatia americana dirigidos por dois grandes cineastas que lidam com psicopatas como ninguém na tela de cinema no mesmo ano. Nós não merecemos tanto!

Nota 6: Apesar de Ladd ter sido um dos atores mais presentes no cinema de estética noir, acabou ficando mais famoso por um western, encarnando o inesquecível Shane de Os Brutos Também Amam.

Nota 7: Eu realmente gosto muito da literatura do James Ellroy, ele tem uma capacidade de mesclar ficção com realidade com tanta perícia, que é quase impossível separar o que é uma coisa do que é outra. Sem dúvida um dos grandes nomes da literatura policial de todos os tempos, não devendo nada aos Hammet, Chandler e Highsmith (se eu não falar da Highsmith o Lucas me esquarteja com um machado!) da vida.

Nota 8: Filippo Scózzari (mais um fodão italiano dos quadrinhos) adaptou o roteiro do Chandler para grafic novel, foi lançado no Brasil há um tempo atrás mas ainda não pousei os olhos nela, isso se já não saiu fora de catálogo.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

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