Seria heresia da minha parte dizer que The 4400 é tão bom quanto Lost considerando o meu pulsar obsessivo pela cultura pop. Mas a minha heresia seria mesmo se eu dissesse que 4400 não é tão bom quanto Lost assumindo o critério de análise da atual safra de séries americanas. O que faz Lost estar num degrau acima é a sua capacidade manipulativa (embora a cada temporada a qualidade venha caindo, ao meu ver a terceira temporada está uma merda, por enquanto o auge foi aquela “pegada” cinematográfica do Sawyer na Kate digna de Rett Butler na Scarlet O’Hara, o que anda faltando alí é a mão do J.J. Abrams, ou vai me dizer que aquele piloto duplo dirigido por ele não foi o melhor episódio da série até hoje? Sem falar que 50% do potencial de suspense sai da trilha sonora do Giacchino) enquanto era um seriado cinematograficamente bom rendeu horrores para a fase atual em que todos continuaram obcecados (eu!eu!), mas revendo a primeira temporada percebe-se o quanto sua qualidade caiu. Já 4400 começou com uma idéia sensacional, mas ainda pecava por pieguices estéticas em algumas cenas, na segunda temporada a coisa pegou no tranco e agora a terceira aniquilou-se qualquer dúvida de sua real qualidade.
The 4400 é total e obviamente baseado em X-Men, talvez por isso o público considere que não esteja vendo nada de novo. Além de X-Men, a referência literária recai recorrentemente em Lovecraft especialmente a partir de A Cor que Caiu do Céu e Nas Montanhas da Loucura (o qual Lost também não deixa de chupinhar só que de certa forma factual ao contrário de 4400 que é meramente filosófico), daí já viu, misture X-Men e Lovecraft e dará em algo no mínimo interessante. Acrescentaria aí mais uma pitada de cultura pop com referências à Body Snatchers, Village of the Damned, Arquivo X (incluindo aí a tensão sexual irrealizável dos agentes), Contatos Imediatos de Terceiro Grau e qualquer referência futurista de alteração da linha do tempo. É uma ficção cientifica, que nem é tão ficção assim, já que os critérios de evolução da raça humana constados ali é apenas uma questão de tempo (isso se os conservadores – incluído aí os fanáticos e puta que pariu em geral – que paralisam a evolução da raça humana não atrapalharem), mas é uma ficção científica das grandes com direito a realidades alternativas, viagens no tempo e no espaço, fanatismo religioso, etc etc.
E na boa, enquanto o Desmond não chega (essa semana, será?) vou me divertindo com a ressurreição do meu favorito Jordan Collier interpretado por Billy Campbell em 4400 (para quem não lembra, ele foi o próprio Rockeeter na adaptação cinematográfica da HQ, isso no século passado, é claro), se eu falasse que era a Isabelle Tyler seria covardia, não? Ela é praticamente a Fênix Negra (bom, pelo menos era, oops!). Mas afinal, qual é dessa minha sina de que meus personagens favoritos têm de retornar dos mortos?
Nota 1: Eu pasma assistindo a terceira temporada de 4400 dando de cara com o Neil Hopkins interpretando um roqueiro drogado. Para quem não lembra, Neil Hopkins é o ator que interpreta o irmão roqueiro e drogado de Charlie em Lost. Parece que o cara tem feeling irrefreável para a coisa.
Nota 2: Por acaso, um dos diretores de Twin Peaks, Tim Hunter (uh uh! Livros da Magia! hehehe), andou dirigindo uns episódios de 4400.
Nota 3: Jeffrey Combs, para variar, interpreta um cara maluquete em 4400. É impressionante como só dão papéis de “excêntricos” para o Combs. Para dar mais medo ainda, o próximo filme com ele conta ainda com outros dois maluquetes de plantão: Crispin Glover e Brad Dourif em The Wizard of Gore (que é mais um dos remakes heréticos dos filmes dos anos 70, mais uma vez caindo em cima do papa Herschell Gordon Lewis) . Definitivamente eu não gostaria de encontrar nenhum dos três num beco escuro. M-E-D-O.