Sessão dupla com Almodóvar e Scorsese: Satisfação garantida

Os Infiltrados (The Departed, 2006)
Puxa, nem sei como começar a falar daquele que aparentemente é o melhor filme do tio Martin desde Os Bons Companheiros (demorou para eu conseguir afirmar com segurança isso, passando por cima de Cassino e A Época da Inocência) e que, ao meu ver, não é pouca coisa.
Os Infiltrados já começa com Gimme Shelter dos Stones, o que soa mais como uma auto-referência ao GoodFellas, aliás toda a seqüência introdutória nos remete mesmo a Os Bons Companheiros. Mas aí tudo muda… Mesmo com inúmeras das tais auto-referências espalhadas pelo filme (incluindo um Leonardo DiCaprio surpreendentemente musculoso malhando na prisão aludindo ao tio Bob em Cabo do Medo) ficou um quê de Fogo Contra Fogo do Michael Mann no ar (além de ser uma transposição do chinês Conflitos Internos para os EUA), não só pela premissa da caça de gato e rato (no caso rato e rato), mas no desenrolar estético do filme, por isso eu digo que esta nova obra prima do tio Martin me remeteu mais a Heat do que a Cassino ou Goofellas, o que considero com prazer mais um ato de genialidade do titio em não se tornar repetitivo e buscar outras formas de narrativa.
Mas, é claro, o banho de sangue continua lá. E que banho de sangue, hein! Daqueles que nos dão prazer supremo, nos minutos finais do filme até perdemos a conta de quantos cérebros foram espalhados pelo chão e pelas paredes.
E os atores? O QUE DIABOS É O TIO JACK NESSE FILME??? Mr. Nicholson é um assombro em todos os filmes que participa, independente da qualidade dos mesmos, mas vou ousar aqui também, talvez essa seja a melhor atuação do tio Jack desde O Iluminado. Está demoniacamente arrasador como Frank Costello, ele e sua personagem fazem girar o filme. Mas seria um grande erro da minha parte não dar o devido valor aos ex-garotos de ouro que agora já são homens e que fecham como as duas outras pontas do triângulo: Leonardo DiCaprio e Matt Damon. Especialmente DiCaprio está de meter medo de tão bom, o que também não é novidade, já que desde guri era excelente, o que evidencia mais o seu talento é ter que bater de frente com Nicholson em grande parte do filme.
E que venha o próximo filme do tio Martin, o documentário sobre os Stones, se for 1/3 do No Direction Home sobre o Dylan, nós continuaremos a agradecer de joelhos vossa santidade O Scorsese.

Nota: É interessante rever Leonardo DiCaprio e Mark Wahlberg atuando juntos de novo depois de mais de dez anos de Diários de um Adolescente, agora como homens mais seguros de si e sob a batuta do mestre. Aliás, o Wahlberg apesar do papel pequeno está maravilhoso como o “chefe” mau humorado e temperamental do DiCaprio, sem falar que se torna o grande fodão da história.

Volver (2006)
Agora nos voltemos ao sempre cinematograficamente irrestível Pedro Almodóvar… Com Volver a sua homenagem pelo amor ao cinema caiu nas suculentas mães fodonas do cinema italiano (especialmente do neo-realismo) com Penélope Cruz nos remetendo a uma Sophia Loren de Duas Mulheres ou pelo menos metade dos papéis da carreira de Anna Magnani.
Miss Cruz realmente me impressionou, nunca a vi como uma atriz especialmente boa (apesar daquela atuação dela no Sem Notícias de Deus ser estupenda, onde interpretou um mulherengo que reencarnou no corpo de uma mulher), embora lindíssima. Aqui ela não ficou devendo a nenhuma outra grande diva almodovariana incluindo as irretocáveis Marisa Paredes e Carmen Maura (que também está apaixonante em Volver).
Almodóvar nos coloca no seu mundo lírico novamente, o mais feminino dos cineastas, aliás, não conheço muitos homens que sejam ardorosamente fãs de Pedro (só se forem gays, é claro) como o são as mulheres, não são características das classes, mas são estatísticas. Mas de qualquer forma, algo é inegável, Pedro é um talento sem fronteiras que entende horrores de cinema e que continua em melhor forma do que nunca.
Depois de tantos fins de semana de porcariada estreando, é tão bom ter duas obras primas de uma tacada só… É para se dormir feliz esse fim de semana.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

Deixe um comentário

Faça o login usando um destes métodos para comentar:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: