De um lado temos Robert Siodmak, do outro Don Siegel. De um lado temos Burt Lancaster, Ava Gardner e Edmond O’Brien, do outro John Cassavetes, Angie Dickinson e Lee Marvin. E no meio de todo esse povo bom temos Ernest Hemingway.
Na verdade o conto de Hemingway apenas serve de base para a introdução do filme de 1946 do Siodmak (que é uma das melhores seqüências iniciais do cinema noir) e o restante do roteiro usa e abusa de todos os velhos e bons elementos do melhor que há no estilo noir dos anos 40. Já o filme de 1964 do Siegel é uma releitura não do conto e sim do próprio filme de Siodmak transposta para elementos do cinema “de macho” de meados dos anos 60.
Apesar de achar que o filme de Siodmak ser um dos melhores noir já feitos, confesso uma leve predileção pela versão do Siegel, digamos que o considere melhor roteirizado e editado apesar das cenas marcantes de Siodmak, sem falar que a coesão do elenco de 64 é mais bem estruturada, já que no filme de 46 a química se detinha apenas na dupla Gardner / Lancaster.
No final, recomendo ambos com louvor, duas grandes obras que são altamente reverenciáveis por seus respectivos estilos. Filmaços.
Nota 1: Finalmente descobri a maior influência cinematográfica para o estilo dos Blues Brothers: Lee Marvin e Clu Gulager!!! No jeito de falar, andar e vestir, logo de cara isso fica óbvio quando eles invadem uma escola para ceguinhos e botam pra quebrar. Além da trajetória de ir de lugar em lugar em busca de meios para os seus fins, incluindo até a passagem pela sauna.
Nota 2: É sempre muito estranho ver filmes com o Ronald Reagan (esse foi seu último trabalho no cinema e o único como bandido), não sei, parece que tem alguma coisa “fora do lugar”. Nesse filme há muita satisfação já que o John Cassavetes lhe dá um belo soco na cara. E por falar em Cassavetes… Sempre o achei um dos caras mais charmosos da humanidade, sem falar que é um dos meus diretores americanos preferidos. E pensar que ele quase ficou sem esse papel que poderia ter sido do Steve McQueen…
Nota 3: The Killers de 1946 foi um dos muitos homenageados (ou surrupiados?) pelo Carl Reiner no genial Cliente Morto Não Paga com Steve Martin, uma das melhores comédias já feitas. De chorar de rir.