A parceria do Mike Hodges com Michael Caine deu tão certo com Get Carter que no ano seguinte resolveram se unir novamente em Pulp. Não chegaram à excelência de Carter, mas tampouco não fizeram de Pulp um filme digno de ser assistido com prazer, muito pelo contrário, satisfação é o que não falta ao assistí-lo.
Como o próprio título deixa claro, Caine interpreta um escritor de literatura pulp, envolve-se com um ator americano na Itália (vivido pelo quase-anão Mickey Rooney) e acaba indo um pouco além disso, ou seja, a sua própria vida passa cheirar a romance barato: muito crime, bizarrices e sexo.
O filme é narrado em tom de literatura pulp (Amo! Amo!), com momentos bem interessantes (como a cena do ônibus em que cada passageiro ganha narração em off de seus respectivos pensamentos) e repleto de referências da cultura pop-criminosa, como Johnny Stompanato, George Raft, Bugsy Siegel, Capone, policial noir e até o livro Poderoso Chefão. O roteiro original foi escrito pelo próprio Hodges e soa como uma adaptação de livro do Elmore Leonard com verniz ítalo-britânico. Além de tudo, é um filme engraçadíssimo, dosando deliciosamente o humor negro que assenta tão bem ao Michael Caine. Enfim, delicioso de se assistir.
Nota 1: A personagem de Mickey Rooney me parece obviamente inspirada em George Raft, um dos maiores e mais emblemáticos gângsters das telas e que durante um tempo houve a desconfiança se ele não tinha mais do que amizade com os mafiosos que eram sua companhia constante, ou seja, ele próprio faria parte dos negócios. Bem pior que o meu Sinatra.
Nota 2: Para o deleite dos aficionados do gênero, o filme conta com a participação de Al Lettieri que no mesmo ano teve as suas atuações mais inesquecíveis: o Sollozzo de O Poderoso Chefão do Coppola e o Rudy de Os Implacáveis do Peckinpah.
Nota 3: Outro tipinho inesquecível que participa de Pulp é o dono do boteco-espelunca de Era Uma Vez no Oeste: Lionel Stander.Nota 4: Por falar em Michael Caine, haverá outra versão da peça Sleuth e estou entusiasmadíssima! Peraí, eu entusiasmada com um remake de um dos meus filmes preferidos dos anos 70? Sim, levo fé nesta versão dirigida por Kenneth Branagh (que viveu a vida correndo atrás de tudo relacionado ao Laurence Olivier) roteirizada por um dos maiores dramaturgos de nossa era (Harold Pinter), Michael Caine no papel que fora de Olivier e Jude Law no papel que fora de Caine. Mas por que levo fé? Jude Law, é claro! Ele é o filho bastardo do Michael Caine e só não pôde provar isso na sua totalidade porque Hollywood não lhe deu o papel de John Constantine (isso nunca foi cogitado por Hollywood, mas desde que Jude Law veio à tona, era o Hellblazer que via nele) que é outro filhote de Michael Caine. Mas o remake de Alfie ganhou vida pelo carisma atordoante do Law (não só o carisma, diga-se) que a personagem requer. E o Branagh é excelente quando quer, embora tenha andado sumido, ainda acho que a melhor versão de Hamlet para o cinema é aquele ostentoso filme seu de 1996. Puxa, quero ver mesmo um duelo de Caine com Law, ambos soltando faíscas dos olhos.
Nota 5: O que rola que tudo que foi interpretado por Caine tem virado remake na última década? Alfie, Italian Job… Não vi o remake de Get Carter com o Stallone. Não tive coragem.
Nota 6: O Caine está filmando com o Michael Radford e o homem já enterrou o Massimo Troisi (com O Carteiro e o Poeta) e o Richard Burton (com 1984). Medo.