Sexy e Marginal (Boxcar Bertha, 1972)

Boxcar Bertha (1972) - POSTERÀs vezes deixamos passar batido nas nossas vidas filmes que nem sabemos o porquê tivemos a audácia de não ter corrido atrás antes. A minha pérola do dia é um inevitável Scorsese de 1972 pré-Caminhos Perigosos: Sexy e Marginal ou, se preferir, Boxcar Bertha, baseado no livro escrito por Ben Reitman sobre a tal Bertha Thompson (Barbara Hershey) e seu amante Bill (David Carradine – !?! Não diga!) que apesar de muita gente achar que realmente existiram, são uma miscelânia de várias personas reais, incluindo, em relação à Bertha, a anarquista Emma Goldman (também conhecida como Red Emma) e obviamente Bonnie e Clyde.
Hoje em dia esse filme é conhecido como “o pior Scorsese” muitas vezes até sendo deixado de lado, mas cá entre nós, fazer um filme produzido com a pouca grana e tempo do Roger Corman devia dar um know-how desgraçado pra um cineasta, tanto é que boa parte dos tipos icônicos de hoje foram “descobertos” pelo Corman. Mas como acho que os filmes B é que dominam o mundo e o Scorsese já dá suas pinceladas nesse aqui de forma absolutamente cru, apesar da linguagem do filme nos remeter mais ao cinema dos anos 60 do que na sua situada década de 70, gosto bastante desse filme, no melhor exemplo que até o pior dos Scorseses ainda é muito bom. E desafio a não ficar extasiado com a cena da crucificação “vagonal” do David Carradine ao final do filme, se não gostar daquilo é porque é pecador e vai direto para as profundezas do inferno.

Nota 1: Na época das filmagens David e Barbara eram casados e ambos voltaram a trabalhar com o tio Martin, ele como o bêbado de Caminhos Perigosos e ela como a acachapante Maria Madalena de A Última Tentação de Cristo. O mais curioso é que Bertha é simbolicamente uma Maria Madalena, é o ex-quase-padre Scorsese adaptando para os tempos da depressão o anarco-cristianismo.

Nota 2: O chefão da família Carradine, John, tem um papel no filme. Imagino a emoção do tio Martin em ter uma lenda do cinema no elenco de um filme seu no início de carreira. Numa das cenas ele contracena lindamente com seu filho David, pela qual provavelmente também foram gratos a Scorsese.

Nota 3: Muito se acreditou que a tal Bertha Thompson realmente tenha existido (principalmente porque o autor declarou sua existência real e na própria introdução do filme dá-se a entender que é uma biografia), mas a personagem fora mesmo uma criação do anarquista Ben Reitman (cujo alter-ego é provavelmente o Bill) baseado em várias mulheres. Emma Goldman foi sua amante. Até hoje ainda há muitas pessoas que realmente acreditam em sua existência, mas é mais um ato bem ao estilo “JT LeRoy de ser”.

Nota 4: Emma Goldman aparece no filme Reds de Warren Beatty sobre a Revolução Russa e tem um povo que jura que o Emmanuel Goldstein do 1984 do Orwell tem esse nome por causa da tia Emma.Boxcar Bertha (1972) - BARBARA HERSHEY & DAVID CARRADINENota 5: E por falar em David Carradine e Bill o que diabos vem a ser esse filme: Being Michael Madsen? É uma espécie de “Quero Ser Michael Madsen”? Se for, eu também quero! E o mais mais curisoso é ir até o fim da página e encontrar isso: If you like this title, we also recommend… Bambi II (2006) !?!

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Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

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