O que é o cinema, hein? Aparentemente não há lista de livros dos mais infilmáveis que não deveria constar o Ulysses de James Joyce. Pelo menos era o que pensava eu até assistir essa versão dirigida por Joseph Strick em 1967.
Não vou dizer que As Alucinações de Ulisses (o título no Brasil) beira a genialidade, porque ele é mesmo genial em cada pedacinho de seu ser. Sim um ser, um ser que transcende a necessidade do pensamento como narração em off a todo segundo, que mostra a ansiedade de seus personagens através de imagens claras e até por pequenas jóias sonoras que resumem todo o pensamento daquele instante, como é o magnífico momento em que Leopold entra no restaurante e, ao ver as pessoas comendo, ouve o som dos porcos a chafurdar, na fantástica transposição do Odisseu homérico com seus amigos transformados em porcos na ilha de Circe. Outra coisa que transmite a excelência da linguagem captada no filme é falta de distinção do que acontece na realidade de Bloom e o que é meramente fruto do fluxo de consciência joyceano, ou seja, a fantasia de seus pensamentos, a quebra total do espaço-tempo.
O filme deixou-me com uma vontade tremenda de reler o livro, o até então inominável joyceano, especialmente com O Gado do Sol, o capítulo 14, que é uma das coisas mais absurdas que li na vida. Absurda no sentido de inigualável, de um êxtase literário sem precedentes, o orgasmo supremo da linguagem e forma literária. Calha que o ápice do filme venha justamente das seqüências extraídas de O Gado do Sol/Circe, só lembrando que o livro de Joyce tampouco segue a linearidade dos acontecimentos da saga homérica, que vai e volta, retomando e deixando os elementos dos Cantos de Homero a seu bel-prazer. E, para variar, o mítico monólogo final de Molly Bloom também não peca pela falta de excelência.
Grande Adaptação. É por esses e outros momentos sublimes que tenho igual paixão por cinema e literatura.Nota 1: Dez anos depois de Strick ter dirigido essa adaptação, ele voltou no tempo e dirigiu uma adaptação de O Retrato do Artista Quando Jovem, o debut de Stephen Dedalus na literatura, adaptação esta que não consegui que desse as caras em nenhum lugar do mundo acessível por mim. O Stricker era cheio dessas adaptações literárias, em 70 dirigiu uma versão de Trópico de Câncer do Henry Miller a qual nunca consegui colocar as mãos também, assim como O Balcão em 1963 baseado na peça homônima de Jean Genet.
Nota 2: Confissão, sempre gostei mais do Stephen Dedalus do que de Leopold Bloom.Nota 3: E qual a minha surpresa em dar de cara com a Fionnula Flanagan em seu primeiro papel no cinema como Gerty e a representação de Nausícaa, a princesa que encontrou Ulisses nu numa praia e o ajudou a voltar para a casa e, consequentemente, para sua Penélope. Hehehe Essas coisas me assustam.
Achei o torrent do portrait e está baixando muito bem. seja feliz:
206874560/A_Portrait_of_the_Artist_as_a_Young_Man__1977_.torrent.html
(link do rapidshare. nao consigo postar aqui o link todo. é só achar um outro link e começar a copiar a partir do numero)
CurtirCurtir