O Miado do Gato (The Cat’s Meow, 2001) e RKO 281 (1999)

The Cat's Meow (2001)Não quero falar do The Cat’s Meow por ser um filme bom, muito pelo contrário, está anos luz do auge da carreira do Peter Bogdanovich (creio que fizeram um trabalho pesado pra ele), mas porque trata de um assunto interessantíssimo que poderia ou não ter mudado toda a história do cinema.
O Miado do Gato trata do suposto assassinato do produtor de filmes mudos, Thomas Ince, praticado por William Randolf Hearst no seu iate, suposto porque as pessoas que estavam ali naquela noite “não viram nada” e oficialmente Ince morreu de um ataque do coração que teve início por causa de sua úlcera (!?!). Mas essa história dúbia de úlcera com ataque do coração na comemoração de seu aniversário (a festa era em homenagem aos 42 anos de Ince) não foi a única coisa estranha que se seguiu, a posterior mítica fofoqueira das estrelas Louella Parsons, em sua primeira visita a Hollywood, saiu daquele barco com um contrato vitalício para trabalhar praticamente para todo o sempre com Hearst, embora antes disso fosse já empregada de Hearst como uma colunista comum. Mas o mais suspeito dos fatos foi a amante de Ince (é esperar demais que me lembre do nome dela, não?) ter morrido num acidente de carro logo depois de ter o bebê que estava esperando de Ince (parece-me que o bebê acabou aos cuidados de Marion Davies que encontrou um lar para ele – eu sei, novelão total).
Mas por que Hearst mataria Ince? Por causa de Charles Chaplin, é claro. Segundo essa versão da história (corroborada por um livro que Patty Hearst escreveu nos anos 90), Chaplin, um conhecido mulherengo, estaria apaixonado e cercando Marion Davies por todos os lados e, num ataque de ciúmes, Hearst atirou em Ince achando que era Chaplin. Agora imagine se Hearst tivesse conseguido mesmo matar Chaplin, toda a história do cinema mundial teria sido mudada, tudo que conhecemos viria abaixo. Caos total. Ince é considerado o pai dos westerns, mas não há como saber se a sua morte teria desviado bruscamente a história como a de Chaplin o faria antes mesmo de ter concluído Em Busca do Ouro, uma de suas primeiras grandes e indiscutíveis obras-primas.
Existe um outro trabalho de ficção bastante interessante, que se passa na época da controversa filmagem de Cidadão Kane, onde pelo menos se pode ver o grau cumplicidade entre Hearst e Louella Parsons: RKO 281. O roteiro desse telefilme foi baseado no documentário existente no dvd duplo de Cidadão Kane: A Batalha por Cidadão Kane.RKO 281 Tenho que confessar, é um filme excelente para um telefilme, claro que o elenco excepcional ajuda e muito: Liev Schreiber como Orson Welles, James Cromwell como William Hearst, Melanie Griffith como Marion Davies, John Malkovich como Herman Mankiewicz e Brenda Blethyn como Louella Parsons, além de n outros pequenos papéis de ícones de Hollywood.
Peter Bogdanovich arrancou algumas coisas sobre o assunto de Orson Welles naquelas míticas entrevistas que fizeram, embora Welles fosse uma criança na época dos acontecimentos, aparentemente acreditava nessa lenda de Hearst ter matado Ince no lugar de Chaplin por engano, principalmente porque o roteirista de Cidadão Kane, Mankiewicz, era realmente amigo de Marion Davies e ele teria contado isso a Welles, aliás, ele fez de tudo no roteiro para que Susan Alexander se distanciasse o máximo possível da real Davies que na realidade não teria nada a ver com a versão vista em Kane e que a intenção era focalizar o real Hearst (e não só, pois Kane tem pequenos elementos de diversos outros magnatas da época, mas o foco principal foi mesmo Hearst), mas infelizmente até hoje Davies ficou com a aura errônea de Susan Alexander…

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

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