Gatinha Selvagem (Die Bergkatze, 1921)

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Anteriormente a Wildcat, Lubitsch já havia dirigido pelo menos 3 das sua obras primas (A Princesa das Ostras, A Boneca do Amor e Não Quero ser um Homem) e feito tantos outros com a Pola Negri no elenco, tudo isso antes de chegar aos 30 anos. A grande vantagem do cinema mudo é que se rodavam filmes aos borbotões, tantos que era impossível não acabar saindo pelo menos uma grande obra no meio do entulho, isso em Hollywood, então imagine Lubistch na Alemanha durante a primeira guerra. É fato que o período que durou a 1ª Grande Guerra foi usado por Lubitsch para fazer um “intensivão” sobre cinema, foi nesse período que ele aprendeu no braço a fazer cinema e ver alguns de seus filmes dessa época nos leva a constatação que aqueles curtas xexelentos foram uma espécie de copião totalmente bruto e desengonçado do que seriam suas futuras jóias lapidadas e metamorfoseadas na mais pura poesia visual da primeira metade do século XX. Mas aí vem o pós guerra e tudo começa de verdade no cinema alemão, dá até para encontrar Lubitsch, Billy Wilder e Hitchcock (Hitch é inglês mas, assim como os Beatles, começou na Alemanha) tomando um café juntos na UFA como ilustres desconhecidos no começo dos anos 20.
Quando Lubitsch filmou Gatinha Selvagem ele já tinha feito grandes comédias, mas este era o primeiro filme cômico com Pola Negri como protagonista, embora o sexto filme em que trabalhassem juntos. Negri era predominantemente uma atriz dramática, o mais vamp possível e primeira grande femme fatale do cinema germânico, vê-la numa comédia interpretando uma literal selvagem que não entende os mais simples significados culturais como o beijo, além de engenhocas mudernas como a fotografia, é um sopro de ar fresco.
Se Lubitsch construía muito do nonsense de suas comédias faladas se baseando 90% nos diálogos inusitados e deliciosos, no seu cinema mudo esse nonsense (ou no caso seria uma comédia expressionista?) chega a ser mais afiado já que pouco tem para mostrá-lo que não seja através de imagens. Há algumas cenas de Wildcat que muito me satisfazem, como a cena de abertura onde é mostrada uma cidade habitada só pelas amantes e filhos do principal personagem masculino interpretado por Paul Heidemann (o que me fez lembrar de Fellini), outro momento delirante e engraçadíssimo é um sonho da personagem de Pola onde Paul arranca um coração gigante de dentro de seu uniforme de tenente e Pola começa a comê-lo.
Mas a beleza do filme gira em torno do relacionamento sadomasoquista que a personagem de Pola tem com um dos colegas de seu bando montanhês, um relacionanto que alimenta extrema satisfação nos açoites, no arrastar pelos cabelos, na dor física e emocional, mas é nesse relacionamente que a personagem de Pola vai encontrar o verdadeiro amor e não no flerte baseado estritamente no furor sexual daquele tenente que ela sonhava em comer o coração. Gatinha Selvagem talvez não seja uma das obras primas mudas de Lubitsch, mas ainda nos dilacera com sua cômica poesia.


Pola durante o romance com Chaplin e posteriormente a futura viuvez por Valentino.

Nota: Particularmente sou caidinha por Pola Negri, toda aquela morenice voluptuosa da polonesa em meio a todas aquelas estatuescas divas loiras tinha que fazer algum sucesso, mais uma que foi prejudicada pelo cinema falado, além de não ser bem vista pelo fato de ser a atriz preferida de Hitler, enquanto gente como Marlene Dietrich fazia parte do caderninho negro do tipinho com bigode caricato. Billy Wilder a queria muito como Norma Desmond, mas Negri deu um piti, como era o seu habitual, e não aceitou porque Norma se assemelhava muito a ela própria.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

6 comentários em “Gatinha Selvagem (Die Bergkatze, 1921)

  1. Nunca vi nada dela, mas considero os cinemas mudos mais expressivos do que os falados. A necessidade de se expressar por imagem levava a isso… e, afinal, uma imagem vale mais do que mil palavras :)

    Abraços o/

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  2. Ih, cara… acabei de assistir, nem deu pra digerir ainda, mas foda foi mesmo, é isso que dá juntarem os dois mais maluquetes do seriado: O Faraday e o Hume. Total De Volta para o Futuro e Matadouro 5, e eu tinha razão com o lance da glândula pineal e eletromagnestismo à la Lovecraft.

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  3. oi Dri.

    Que coisa, Norma Desmond existiu! Pola Negri deveria ser uma “louca” fascinante. Pelo menos de longe.

    abs

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  4. Oi Dri.

    Norma Desmond existiu. Era deveria ter sido uma louca e fascinante mulher. é claro que um pouco de longe.:)!

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