Os bons tempos voltaram… vamos gozar outra vez! Ou Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal ( Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008 )

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal - And the Kingdom of the Crystal Skull 2008

Que a sinceridade prevaleça desde o princípio: lacrimejei o filme todo. Pronto, falei. Partindo da premissa que apenas filmes a impulsionar um passado redescoberto me fazem chorar e que a última vez que isso ocorreu foi com Ratatouille no ano passado, chega-se à constatação que se Ratatouillle é a explicação da causa das feridas reabertas por referências óbvias à Proust, então Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é o efeito.
Um Indi em 2008 é o mesmo que sentir o cheiro daquela flor que você não sentia desde a infância ou ouvir aquela música que você não ouvia há 20 anos, coisas que fazem aflorar milhões de sentimentos separados por décadas, sensações há muito esquecidas, feridas há muito cicatrizadas. Ver um Indi hoje no cinema tem efeitos muito mais conspícuos que uma sessão de análise, com os méritos de que é mais barato e divertido.
E a cada referência aos filmes anteriores era uma nova lágrima escorrendo, o logo da Paramount se tornando a montanha, a entonação de Karen Allen ao dizer o nome de Indiana, a Arca da Aliança no depósito, os russos dependurados a cair na água, Cate Blanchett e Ray Winstone dividindo as mesmas nuances da loira nazista, fuga de pai e filho numa motocicleta, close-up do macaquinho, a história do sequestro por Pancho Villa saído direto do The Young Indiana Jones Chronicles, entre outros pequenos e infinitos detalhes. Se parasse por aí a infinidade de auto-referências não seria tão divertido quanto ir em busca das belas homenagens ao cinema de aventura, como a briga da lanchonete seguida da perseguição e que nos remete imediatamente à De Volta para o Futuro nos anos 50 ou a homenagem introdutória daquela outra personagem Fordiana sob a batuta de George Lucas na corrida de carros de American Graffiti e, claro, a melhor de todas, o indelével ressurgimento de Han Solo na pele de Harrison Ford e sua mítica frase “I’ve got a bad feeling about this” só para levar todos ao delírio! O filme é totalmente auto-referente aos filmes produzidos e dirigidos pela duplinha George-Steven, mas pode-se notar também a grande ligação que John Hurt sempre teve com seres de cabeça comprida, o porque Andrew Divoff saiu da Guerra Fria e foi parar em outra dimensão e o real motivo do cinema B de ficção científica dos anos 50 sempre ter sido associado aos comunistas.
É tudo uma grande homenagem ao cinema dos anos 50 e 80, assim como os filmes anteriores o foram ao cinema dos anos 30 e 40, que o diga a fenomenal entrada em cena de Shia LeBeouf à la Marlon Brando, mas que não tira a coroa daquela altamente soluçável entrada de Harrison Ford com sua sombra e seu chapéu. Não adianta, o bom e velho Indi continua a chutar todas as bundas e faz palpitar corações, é quase impossível crer que o peso de duas décadas não tenha alterado a sua essência, seja o peso da idade do diretor, da idade do elenco ou, principalmente, da idade do público. God Bless You, Mr. Spielberg, não perdeste a mão!
Se o filme é bom ou não? Procure um crítico de cinema, aqui escrevo o que eu quiser.

Fato: Karen Allen voltou para provar o porquê Marion Ravenwood foi de longe a melhor das indi-girls (desculpa aí sra. Spielberg!).

Fato: Ao contrário do que se podia temer, Shia LeBeouf honrou a responsabilidade da herança genética de sua personagem, calando a boca de muitos que apedrejavam tal escolha. Mas me senti aliviada quando o Ford tirou o chapéu da mão dele. Ufa! Alívio total. hehehe
SHIA LEBOEUF - MOTO - INDIANA JONES AND THE KINGDOM OF CRYSTAL SKULLFato: Harrison Ford continua impecável como Indi no alto de seus 65 anos. O que foi? Ele é mais jovem que meu pai, oras.

Fato: O filme foi um dos maiores prazeres do ano numa sala de cinema até a presente data.

Fato: A estrutura narrativa da saga continua com uma deliciosa aula de história como pano de fundo, Roswell, testes atômicos em Nevada, Guerra Fria, Eram os Deuses Astronautas?, macarthismo, civilização de Nazca, cultura pop americana, testes russos sobre paranormalidade. Tudo colocado da maneira mais divertida possível.

Fato: Aquelas marmotas e aqueles macacos realmente me irritaram. Do fundo da minha alma transtornada. Aquelas marmotas indicavam o quê? Que a primavera chegou? Elas eram radioativas, meu deus! Aliás, isso daria um bom filme B “O Ataque das Marmotas Radioativas” algo ao estilo de “A Noite dos Coelhos Assassinos”.

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Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

12 comentários em “Os bons tempos voltaram… vamos gozar outra vez! Ou Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal ( Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008 )

  1. “Se o filme é bom ou não? Procure um crítico de cinema, aqui escrevo o que eu quiser.”

    Palmas infinitas pra isso. Ainda não vi o filme (e começo a filmar essa semana, então só devo assistir bem depois), mas já sei como vai ser a sessão. Indiana e Jurassic Park foram os Spielbergs da minha infância, quando eu ainda achava que ia ser um arqueólogo.

    Valeu pelos parabéns! Wagner podia mesmo é ter deixado os direitos das músicas dele pra mim, mas me contento em ter nascido no mesmo dia.

    E respondi algumas coisas sobre O Iluminado lá, não sei se viu.

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  2. Ahhhh… concordo com quase tudo, “O filme foi um dos maiores prazeres do ano numa sala de cinema até a presente data” principalmente. As marmotas até que não me incomodaram. Também adorei as referências… a briga na lanchonete, aliás a trilha sonora muito boa… Cate Blanchet tava ótima morena e ucraniana hehehe. Foi ma-ra-vi-lho-so, superou as minhas expectativas. Arrepiei lendo o teu texto, tão nostálgico. ;)

    Bjs

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  3. Lucas, não cheguei a ler crítica alguma ainda do Indiana, não tenho a mínima idéia de qual a posição geral do hype, eu simplesmente adorei, não sei se com uma segunda olhada eu vá ficar decepcionada em relação aos filmes anteriores, mas comparado ao cinema de aventura que se vê hoje em dia dá-se um banho gigantesco (com excessão dos filmes do Peter Jackson, é claro).
    Spielberg dos anos 80 foi um dos grandes responsáveis pela formação do meu caráter!!! Reza a lenda que o E.T. (O ET ET, já que quase todos os filmes do homem tem um alienígena) é até INFP como eu, hehehe Mas sério, ET, Indiana Jones, Goonies (versão pirralhada do Indiana) e De Volta Para o Futuro foram minha educação primordial e são coisas que estimulam muito a imaginação, eu brincava de arqueóloga escavando piçarras ao lado do meu cachorro Tchiquito (virge, isso é mais Tintin mas nessa época ainda não o conhecia ou o jovem Henry e seu cachorro Indiana, hehehe) por causa do Indiana Jones. De Volta para o Futuro me rendia muitos períodos imaginativos também e Star Wars foi emblemático mas não foi importante como os outros. Jurassic Park não me pegou, na época eu já estava crescida, não morava mais na roça e descobrindo outros tipos de cinema…
    Talvez esse lance de Indiana também tenha a ver com minha paixão por história, sempre fui vista pelos que me conhecem como a garota que sempre fora mais chegada em literatura, mas na verdade minha matéria favorita sempre foi história desde os primórdios da minha educação e nada na minha casa estimulou essa minha paixão.
    Ai Amanda, tudo é lindo naquele filme até as coisas que me incomodaram! Também superou as minhas expectativas e olha que as minhas expectativas eram beeeeeeeeem altas… A primeira marmota da montanha não me incomodou e até achei bem legal, é que depois elas ficavam voltando e voltando… isso é típico do George Lucas, ele colocou aquelas porrinhas lá só para ficar brincando de desenhinho em CGI. O que incomodou mesmo as pessoas foi a geladeira por aspectos de verossimilhança, mas isso não me incomodou, o que me incomodou foi a porcaria da marmota esperando do lado de fora. Esse lance de verossimilhança é sempre foda nos filmes, A Arca da Aliança é verossímel, a as pedras hindus são verossímeis, O Cálice sagrado é verossímel, alienígenas são verossímeis, mas a porcaria da marmota esperando do lado de fora de uma geladeira pós-explosão nuclear não o é! hehehe
    Uns close-ups da Cate mostraram bem o porquê a acho uma das mulheres mais lindas do cinema atual, aquela mulher é uma pintura renascentista!!! Sem mencionar que ela estava com o meu corte de cabelo favorito, vira e mexe eu volto a cortar meu cabelo exatamente daquele jeito à la Louise Brooks.
    A parte cultura 50’s representada pelo Shia é tão legal, o cabelo, a moto, a roupa identica ao Marlon Brando em O Selvagem, as brigas de gangue! Aquilo é uma delícia! E quem diria que um dia veríamos os créditos iniciais de um Indiana Jones ao som de Elvis?

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  4. Eu também não li críticas, e pra falar a verdade não quero ler nenhuma enquanto não assistir o filme.
    História era a única matéria que eu gostava (de uns anos pra cá venho gostando mais de matemática, mas antes detestava), e esses filmes como Jurassic Park e Indiana Jones – além de outro produzido pelo Spielberg, acho que O Enigma da Pirâmide, era um que tocava Carmina Burana no clímax – só me fizeram ter mais vontade ainda de ser arqueólogo. Enquanto os outros moleques sabiam detalhes de carros que até hoje eu não sei, eu ficava lendo sobre dinossauros. Morar na roça foi essencial pra isso tudo, claro.
    E porra, já fizeram teste até pro ET! Lembro que, entre os personagens do mesmo tipo que eu (INTJ), tinha a Clarice Starling e o Sr. Burns.

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  5. PQP! Dardos envenenados! Dardos envenenados ao contrário em Enigma da Pirâmide!!! Putz, vou ficar até ano que vem encotrando referências no filme.
    Que boa essa sua lembrança do Enigma, aquela cena das alucinações do Watson com bolinhos foi meio traumática, talvez porque uma vez fui visitar uma tia e ela ficava me oferecendo brigadeiros só que na minha cabeça ingênua de criança ela ficava me obrigando a comê-los e eu comia, depois vomitei no carro todo no caminho de volta e superei o meu trauma com brigadeiros só quando adulta.
    Sr. Burns? Que medo! hehehe E o que liga os INFP e os INTJ é o aconselhamento, isso é bacana. Os personagens fictícios mesmo que o meu sempre são aqueles que são “meio fora da realidade” como o Calvin dos quadrinhos, o Fox Mulder, o Doug e seu capitão Codorna, o Bastian de A História Sem Fim…

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  6. olá Dri.

    Saboroso foi vê-lo dublado pelo mesmo dubaldor dos outros 3 filmes. Fiz questão.

    O video só entrou em casa a partir de 92, e a cultura do cinema, bem com quatro filhos, só de vez em quando e Trapalhões. Por isso, o prazer de assistir ao velho Indy só pela Tv, passim, fiz questão, e que sabor ao ouvir aquela velha voz. hiihihi.

    Fora isso, o Filme toda é saboroso, e bobo de quem teve infância e não achou.

    abs :)

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  7. Não tem nada não, só fui ver meu primeiro video cassete com quinze anos! Aliás, a primeira coisa que fiz com meu primeiro emprego foi pagar um video cassete a prestação! Era só no cinema quando iámos para cidade ou na boa e velha grobo (porque só pegava Globo e Cultura no sítio). Eu vi o legendado mesmo, sério que é o mesmo dublador? Que máximo! Dá até vontade de ir ver dublado agora…

    Ó meu deus, Indi morrerá de câncer??? Olha o que aconteceu com o John Wayne, Susan Hayward, Pedro Armendáriz, Agnes Moorehead, John Hoyt e Dick Powell por terem filmado Sangue de Bárbaros lá por aquelas bandas… E porque ele morreria se ele bebeu do cálice sagrado? hehehe

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  8. O Shia LeBeouf, a propósito, tá parecendo o Doug Funny quando imitava o próprio Indiana Jones naquele personagem que eu esqueci o nome agora.

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  9. Léo, apesar do meu desânimo, meme aceitado!

    Fred, é o Race Canyon!!! KKKKK o pior é que é mesmo, mas sem o topete! Doug Funny é muito bom… precisava rever.

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