Esta Loura é um Demônio (The Beautiful Blonde from Bashful Bend, 1949)

Betty Grable matava gênios. Literalmente. Primeiro foi o Lubitsch durante as filmagens de A Condessa Se Rende e que foi terminado pelo Preminger, no ano seguinte está lá a loira passando mal agouro de novo fazendo o último filme americano do Preston Sturges, que faria apenas mais um filme anos depois e na França. Aquela treta com o Howard Hughes não conta, poderia até colocar a culpa no seu companheiro de bigodinho indecente mas no meio do caminho do colaboracionismo entre Hughes e Sturges, este teceu uma obra prima chamada Unfaithfully Yours.Esta Loura É um Demônio - The Beautiful Blonde from Bashful Bend 1949 - poster
Mas vamos aos fatos, Esta Loura é um Demônio é um western que nada tem a ver com o estilo Sturgeano que fez sua fama no ínicio dessa mesma década de quarenta e isso nada a ver com ser um faroeste, é que aqueles diálogos sensacionais de repente não estão alí, nem a aura de cinismo estranhamente mesclado a emoções com que Sturges lidara tão bem até o seu então recém lançado Unfaithfully Yours. E o pior de tudo, o filme é em Technicolor, primeiro e único filme colorido de Sturges e tal atentado é uma afronta inadmissível ao seu estilo, onde o uso da penumbra na fotografia branco e preto dava-lhe o tom necessário para tratar da sexualidade alheia com o devido esmero, ou alguém pode imaginar uma cena como o “afagar” entre Barbara Stanwyck e Henry Fonda no Lady Eve com um vulgar Technicolor? Tudo bem que o magnífico vestido vermelho de Betty Grable somado à sua boca carnuda merece todas as cores possíveis, mas com outro diretor, por favor, já não era suficiente ela também ter feito um dos dois únicos filmes coloridos do Lubitsch?
Há pequenas participações de pessoas memoráveis mas pouco aproveitadas, como Rudy Vallee que foi um daqueles eternos atores coadjuvantes em que apenas sua cara já nos fazia rir, afetado por natureza fora habitué do cinema de Sturges, tendo trabalhado com ele em Odeio-te Meu Amor, Harold Diddlebock (outra parceria de Howard Hughes com Sturges) e Mulher de Verdade. Outro tipo inesquecível presente neste filme é Hugh Herbert, um dos atores mais parodiados pelos desenhos animados da Warner nos anos 30, pelo seu riso característico Woo Woo Woo. Também marcam presença Margaret Hamilton mais conhecida como A Bruxa Malvada do Oeste e Cesar Romero nos tempos de galã, anos antes de virar o Coringa quase-definivo.
Não, não há a sofisticação irrepreensível de Sturges neste filme e não, não é um grande filme, mas é no mínimo inovador pois o tipo de humor besteirol alí presente só faria sucesso a partir dos anos 70. É Sturges mesmo não construindo um grande filme se faz visionário.

Nota: A citada “treta com Howard Hughes” foi em 1946 durante as filmagens de Vendetta, o qual só estaria realmente pronto em 1950 entregue pelo agora recém falecido Mel Ferrer depois de ter passado por 5 diretores diferentes, dentre os quais ninguém menos do que Preston Sturges e Max Ophuls. É, Hughes era uma pessoa “difícil”, mas o bom é que podia pagar pelas dificuldades de sua personalidade.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

Deixe um comentário

Faça o login usando um destes métodos para comentar:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: