Não adianta, minha Carole não foi feita para dramas mesmo aqueles tocados por humor cínico, ela é uma atriz cômica (a melhor de todos os tempos) e não há como burlar tal coisa. A minha impressão é que nesse início dos anos 30 tentaram tranformá-la numa espécie de Jean Harlow, mas Miss Lombard era sofisticada demais para ser uma blonde bombshell, como bem provou no filme Bolero em que tiveram a audácia de colocar-lhe uma maquiagem e um tom de loiro idêntico à platina de Harlow e que caiu pessimamente em Carole.
Não sei o porquê dessa insistência, Carole Lombard já provara ser uma comedienne nata durante o fim do cinema mudo em vários curtas da produtora de Mack Sennett, mas só lhe deram o papel definitivo em Twentieth Century do Howard Hawks, o qual me fez cair em absoluta paixão tanto por Carole quanto por John Barrymore. Depois disso ela se estabeleceu como comediante, ainda que tenha se envolvido em filmes insuportáveis como Made for Each Other e In Name Only, este último ao lado de Cary Grant e um disparate total, quem em sã consciência colocaria os dois maiores nomes da comédia screwball dos anos 30 lado a lado num dramalhão xaroposo?
Bom, quanto à Virtude, é um filme decente e Carole se sai bem na história de uma prostituta que se casa com o motorista Pat O’Brien e cujo passado irá interferir no relacionamento na forma de envolvimentos com suas antigas colegas e cafetões, ou seja, nada novo para o cinema pre-code. Creio que este é o melhor filme dramático de Miss Lombard, embora ela seja sofisticada demais para conseguir passar veracidade como prostituta de rua e a única forma de vê-la é como prostituta de luxo, mas devido ao excelente elenco e especialmente ao roteirista colaborador habitual de Frank Capra, Robert Riskin, com seus diálogos espertinhos mas sempre cheios de alma e que caem como uma luva para nossa pequena grande Tornado de Indiana.
Carole Lombard e sua colega de profissão Shirley Grey em Virtue