Repassando Jake Kasdan

Sempre rola os filhos de não-sei-quem que acabam por seguir a mesma carreira dos pais, Jason Reitman já provou ser melhor que o pai Ivan, mas façamos justiça: o filho do Lawrence também têm as manhas. Antes de se embrenhar em um dos filmes mais bisonhos da história (O Apanhador de Sonhos, qual mais?), papai Lawrence Kasdan fora um cara de respeito, além de ajudar George Lucas a colocar as coisas nos eixos com os roteiros de O Império Contra Ataca, O Retorno de Jedi e da obra prima Caçadores da Arca Perdida, tio Larry pode entrar não somente na galeria de estréias mais auspiciosas com o neo-noir Corpos Ardentes, como o mesmo não faz feio ao colocá-lo nas listas de melhores filmes daquela década. E nessas considerações, foi assim que escolhi 3 pequenas jóias para uma visão geral do rebento Kasdan:

Efeito Zero (Zero Effect, 1998)
Assim como a estréia de papai em Body Heat garantiu sua obra prima a qual nunca foi ameaçada pelos filmes posteriores, o mesmo aconteceu com Jake e seu Efeito Zero na estréia como diretor, produtor e roteirista. Uma dessas pequenas pérolas que só o sangue novo do fim dos anos 90 sabia produzir, Efeito Zero é um objeto de culto para meia dúzia de pessoas e fonte maior dos labirintos indagatórios do porquê diabos Jake foi tão pouco aproveitado nos últimos 10 anos.
Por coincidência ou não, Efeito Zero também é um neo-noir, um neo-noir com humor extremamente sofisticado e subversor do gênero, apostando na excentricidade de seu detetive protagonista interpretado por Bill Pullman (num papel que só rivaliza em sua carreira com o de A Estrada Perdida), numa mistura de Nero Wolfe com Sherlock Holmes, inclusive não ficaria espantada se me dissessem que as nuances gerais do seriado Monk tivessem sua cota de furto extraídas de Efeito Zero, não me espantaria nem que House, suas investigações e aversão a pacientes tivesse Zero como seu ponto… zero. E sim, trocadilhos infames são mais fortes que a minha vontade.

Um Elenco do Barulho (The TV Set, 2006)
É uma espécie de Rede de Intrigas contemporâneo do mundo dos seriados, dolorosamente autobiográfico, Jake aponta o dedo na cara de sua própria experiência com seriados de TV e deixa algumas pistas sobre tantos outros, ou será mera coincidência o ator principal do show atender pelo nome de Zach e cujo roteiro nos remete imediatamente ao primeiro longa de Zach Braff?
A alma gêmea intelectual de Jake está presente de corpo e alma na caracterização que Duchovny fez de Judd Apatow, este que é o mais respeitado roteirista cômico americano da atualidade. Também não há como deixar de lembrar da própria Faye Dunaway em Network toda vez que Sigourney Weaver entra arrasando em cena, mesmo porque dona Weaver entende do assunto já que seu pai foi presidente da NBC durante anos.
Um amargo grande pequeno filme que precisa mesmo ser descoberto, principalmente pelos fãs de Efeito Zero, este que foi revitalizado como Piloto de uma possível série de TV em 2002, mas que não foi aprovado pela mesma NBC de sempre. Ah, a mesma NBC de Monk… Bastardos.

A Vida é Dura – A História de Dewey Cox (Walk Hard: The Dewey Cox Story, 2007)
A primeira coisa a ser citada quanto a este filme é John C. Reily. Reily é um dos melhores atores de sua geração, quase ninguém o conhece pelo nome, mas todo mundo sempre vai recordar de algum papel que interpretou, possivelmente um dos seus losers natos. E quantas pessoas de 43 anos podem ser suficientemente convincentes ao interpretarem um garoto de 14 anos? Eu sei, nenhuma. Nem ele.
Recorrendo a inestinguível parceria com Judd Apatow, Kasdan pode não ter atinjido a excelência de The Set TV ou Efeito Zero, mas para os padrões da mediocridade cômica que o cinema tem vivido nos últimos anos ganha alguns pontos, onde todo e qualquer clichê sobre cinebiografias de rockstars são levados ao cume do absurdo, está tudo lá: Walk The Line, The Doors, Quase Famosos, Elvis, Don’t Look Back, Submarino Amarelo, A Fera do Rock, Ray, Tina, Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, ou seja, quase o paraíso para os amantes do bom e velho Rock and Roll. Embora as cenas não funcionem em conjunto tanto quanto isoladamente, ainda é uma boa pedida, especialmente se levar em conta as participações antológicas de Jack White como Elvis Presley, o sensacional discurso final de Eddie Vedder (Iggy Pop é Matusalém?), Jack Black como Paul McCartney (!!!), Justin Long como George Harrison, Paul Rudd como John Lennon e Jason Schwartzman como Ringo Starr. Ó céus, como amo o Jason Schwartzman.

Nota 1: Sejamos francos, Jake escreve melhor longe do Judd Apatow, aliás, Jake Kasdan é o típico cineasta que trabalha melhor sozinho, tanto em The Set TV quanto em Efeito Zero ele teve controle como roteirista solo, diretor e produtor, de longe seus melhores filmes. Apatow é um excelente amigo-muso-inspirador, mas como colega de trabalho ele extingue as melhores características de Jake.

Nota 2: Curiosidade Californicatiana, a Lolita sociopata de Californication, Madeline Zima, é uma das “Slut Wars” em The TV Set, assim como a Dani California cita as tais “Slut Wars” num episódio do seriado. Slut Wars seria algo como um Big Brother com moças de biquini, o que não difere muito do original, é claro.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

3 comentários em “Repassando Jake Kasdan

  1. Tô pensando em fazer uma apresentação dessas para os filmes do Terry Zwigoff. Até a sorte com traduções dos títulos é a mesma.
    Só li coisas boas sobre os filmes do Jake e não vi um até hoje. Adicionando uns três torrents aqui…

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  2. Tiago, se tem alguém que merece uma repassada é o Zwigoff, o cara é foda e fez pouquíssimos longas…

    Paula, tem não, a coisa aqui é simples, eu gosto de andar descalça e dormir em sofás… embora não dispense um bom vinho importado hehehe

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