Filmes bacanas de cada ano que o cinema viveu: 1970

1- De Volta ao Vale das Bonecas (Beyond the Valley of the Dolls, Russ Meyer)Beyond the Valley of the Dolls (1970) JOHN LAZAR & MICHAEL BLODGETTYou will drink the black sperm of my vengeance! Quando mais o tempo vai passando, mais fico propensa a dizer que este é o melhor filme de Russ Meyer e olhe que sou bem fã de sua fase branco & preto. Z-Man é uma espécie de precursor de Frank N Furter, só que muito mais plausível, especialmente porque fora inspirado no maluquete do Phil Spector. Absolutamente clássico, absolutamente obra prima.

2- Ciúme à Italiana (Dramma della gelosia – tutti i particolari in cronaca, Ettore Scola)Dramma della gelosia - Tutti i particolari in cronaca - MARCELLO MASTROIANNI, MONICA VITTI & GIANCARLO GIANNININão seria exagero dizer que este é o melhor filme do Ettore Scola, mesmo tendo um Feios Sujos e Malvados no currículo. É mais uma de suas tragicomédias com fundo sócio-político que literalmente te deixa com dor de tanto rir e, convenhamos, um triângulo amoroso formado por Giancarlo Giannini, Monica Vitti e Marcello Mastroianni é tudo na vida.

3- O Mensageiro (The Go-Between, Joseph Losey)Go-Between - Dominic GuardQuem não ama esses diretores americanos que largam tudo e viram diretores ingleses por excelência? Evidente influência para Desejo e Reparação, não digo nem pelas gritantes semelhanças factuais que saem diretamente de um embate Hartley-McEwan, mas sobretudo pela estrutura narrativa, utilização da trilha sonora e das cores, até a presença de Sir Michael Redgrave como a aparição chave vem a calhar como a de sua filha Vanessa no filme de 2007. E cá entre nós, Alan Bates dos anos 60 é tudo na vida de uma mulher (e de um homem também).

4- Vamos a matar, compañeros (Sergio Corbucci)Vamos a matar, compañeros - TOMAS MILAIN & FRANCO NEROEsse é da leva “o cinema político italiano vai ao velho oeste”, com a diferença que este expõe o ridículo das situações, se tornando muito mais anárquico que o cinema político “sério” que eventualmente teria esta intenção. Depois do Leone só dá Corbucci, como assim existem tais diretores que só fazem coisas verdadeiramente apaixonantes? Jack Palance, Fernando Rey, Tomas Milian, Franco Nero, Ennio Morricone… ao lado de pessoas ainda mais apaixonantes? Spaghetti é amor.

5- Copacabana, Mon Amour/Sem Essa, Aranha (Rogério Sganzerla)Copacabana Moun Amour - HELENA IGNEZ - Sem essa Aranha - JORGE LOREDO De um lado temos Zé Bonitinho, do outro Helena Ignez. No centro, o todo poderoso: um dos maiores cineastas deste país.

6- O Pássaro com as Plumas de Cristal (L’Uccello dalle piume di cristallo, Dario Argento)bird with the crystal plummage - EVA RENZI Primeiro e mais engraçado filme do Argento, pelo menos eu ri horrores, principalmente pela galeria de personagens bizarros que vão adentrando a tela, o cafetão gago, o delator paranóico e em especial o pintor comedor de gatos (o Argento é vegetariano e diz não querer matar animais para viver, o bom é que para viver ele finge que mata animais, filosofia a qual estou plenamente de acordo). É o exato objeto de transição entre Alfred Hitchcock, Mario Bava e Brian De Palma.

7- Conde Drácula/Eugenie (Nachts, wenn Dracula erwacht/Eugenie: Story Of Her Journey Into Perversion, Jesus Franco)JESS FRANCO'S COUNT DRACULA - KLAUS KINSKIOlha isso: tio Jess adaptando Bram Stoker com o melhor Drácula de todos os tempos (Christopher Lee, lógico) com Klaus Kinski como Reinfield (thanks god for that!), Soledade Miranda como Lucy, Maria Rohm como Mina e Herbert Lom como Van Helsing? Coma minhas entranhas, tio Jess!
Por outro lado no mesmo ano também temos uma das melhores adaptações do guru Sade, o Marquês, para o cinema, felizmente é um dos melhores filmes do tio Jess, também com Lee e Rohm. Agora esclarecemos um outro porém, no mesmo ano tio Jess gravou um outro Eugenie e que viria a ser o último filme de Soledad Miranda antes de morrer, é um filme interessante que só foi lançado anos depois, mas não é exatamente um Sade oficial apesar do título dizer o contrário. Confuso? A culpa não é minha, a porra da carreira do tio Jess é um puteiro, oras.

8- 5 bambole per la luna d’agosto (Mario Bava)5 Dolls for an August Moon - EDWIGE FENECHTodo mundo sabe a mania que o cinema americano tem daqueles finais rocambolescos, o tal do “twist”, tudo uma palhaçada comparado aos finais dos filmes de Mario Bava, este que não foi apenas um dos maiores cineastas da Itália, mas também o maior perito em desenlaçes do cinema, tudo que você pensa ao terminar de ver um filme seu é “puta que o pariu, filho da mãe do inferno!”. Com o Bambole não é diferente, embora o que conte aqui mais do que tudo é a musa absoluta do gênero em suas funçoes giállicas primordiais: Edwige Fenech, a melhor derrière já vista numa tela.

9- Multiple Maniacs (John Waters) Divine é estuprada por uma lagosta gigante. Basta.

10- The Ballad of Cable Hogue (Sam Peckinpah)Sam Peckinpah The Ballad of Cable Hogue Jason Robards Stella Stevens Ó céus, Jason Robards ainda não saiu de Sweetwater e ainda trocou a Claudia Cardinale pela Stella Stevens!

11- The Rise and Rise of Michael Rimmer (Kevin Billington)The Rise and Rise of Michael Rimmer (1970) PETER COOKAcho que está claro em cada página deste blog o quanto idolatro Peter Cook, não? Aqui ele está longe de sua alma gêmea habitual, mas em compensação traz John Cleese a tira colo.

12- Stray Cat Rock: Sex Hunter / Delinquent Girl Boss (Nora-neko rokku: Sekkusu hanta / Onna banchô, Yasuharu Hasebe)Stray Cat Rock Olha que beleza me aventurar nessas listas, eu nem sequer sabia que era fã do Hasebe e já citei quatro de seus filmes. Esses dois são meus favoritos dele e os melhores da série Stray Cat Rock, um dos epítomes do pink violence. Muito jazz, estilo, violência e rock and roll. Adoro.

13- Dorian Gray (Massimo Dallamano)Dorian Gray (1970)Por isso que o cinema italiano deste período é imbatível: pega-se o clássico literário absoluto sobre o vício e a degradação, o transpoem para a atmosfera dos anos 60 e 70 do século XX e dá no quê? A única adaptação de sua obra a qual Oscar Wilde teria orgulho e ainda daria um jeito de levar o Helmut Berger para casa (e quem não o levaria?). É o máximo que qualquer cineasta poderá chegar da essência do livro de Wilde, enquanto Berger é a encarnação definitiva e divina do próprio retrato.

14- Hi, Mom! (Brian De Palma)HI, MOM! ROBERT DE NIROAntes de dar uma reviravolta assustadora no estilo de seu cinema nos anos subsequentes, De Palma chegou a ser visto como um dos melhores diretores cômicos daquela geração e de criar uma parceria com Bob De Niro antes que um tal de Martin destruidor de casamentos viesse e roubasse o seu homem.

15- The Honeymoon Killers (Leonard Kastle)The Honeymoon Killers - Shirley Stoler, Tony Lo BiancoBonnie & Clyde nada, o primeiro grande filme com um casal de foras da lei é este aqui! Cult até a medula, saiu na leva do grotesco cinema ultra-independente americano no qual John Waters reinava. Assassinos por Natureza, Perdita Durango, Henry… todos são filhos de Honeymoon Killers, provavelmente o primeiro grande filme inspirado em reais assassinos seriais.

Real Melhor filme do ano: Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (Indagine su un cittadino al di sopra di ogni sospetto, Elio Petri)Investigation of a Citizen Above Suspicion (1970) - Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan Menções mais que honrosas a Le Cercle rouge (Melville), Horton Hears a Who! (Chuck Jones), M*A*S*H (Altman), El Topo (Jodorowsky), Tristana (Buñuel), O Ritual dos Sádicos (Mojica), Rengoku Eroica (Yoshida).

Nota: E termina aqui a década sagrada. Falando sério, a década sagrada deveria ser entre os anos 1965 e 1975, o melhor período do cinema de qualquer parte do mundo, a maioria esmagadora de meus filmes favoritos foram produzidos neste período, antes de 65 as coisas ainda não eram suficientes e depois de 75 as coisas começaram a se tornar decadentes.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

3 comentários em “Filmes bacanas de cada ano que o cinema viveu: 1970

  1. Quase perfeita a nota final, eu só trocaria por 66 -76.

    Do Russ Meyer eu gostei bastante do Beyond the Valley of the Ultra Vixens, até mais do que do Faster Pussycat!, deu vontade de ver outros filmes coloridos dele.

    Você viu Figures in a Landscape, do Losey? Esse é absurdo de tão bom, de 1970 também. Malcolm McDowell e Robert Shaw algemados e correndo de um helicóptero no meio do deserto. E é bem Encurralado, personagens sem nome, nada de motivações pra perseguição ou coisa assim.

    O Cable Hogue eu tive que gravar pra uma professora, não lembro se te falei isso. Ela parou a aula pra bater papo sobre os filmes dele, e quando entreguei o DVD ela quase teve orgasmos ao falar sobre o Peckinpah.

    Ah, o Youtube só quer saber de me sacanear. Fiquei umas 30h enviando o filme lá e nada, até que a conexão caiu. E o Dailymotion só tem pra arquivos até 150MB (o filme tem 206MB). Boa desculpa pra eu continuar tentando dividir o arquivo e enrolar pra mostrar pras pessoas.

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  2. Eu vi! Eu vi! O Figures in a Landscape! tanto que fiquei naquelas se ia ou não dividir as honras do Losey com o Go-Between, mas pesando o fato que são tão distintos desisti de listá-lo, assim como fiz com o Bava e o spaghetti em que ele fez no mesmo ano. Aquele helicóptero é quase um elemento de filme de terror, lembro de como foi impactante os primeiros 5 minutos do filme, especialmente pelo uso daquela trilha sonora horripilante. É uma maneira bem assustadora de se iniciar um filme de fugas. Muito me intriga até hoje como o Robert Shaw conseguiu matar um homem estando com as mãos amarradas nas costas, isso é um prodígio!

    Quantos minutos tem o curta, exatamente? Se tiver mais do que 10:59, mesmo você tendo a conta do diretor normal não vai dar para postá-lo, por isso eu disse sobre o lance de entrar em contado com alguém de lá, para eles lhe permitirem uma conta com duração mais ampla. Em todo caso tem o Google Videos, que é uma bosta, mas dá para o gasto.

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  3. esse do zé do caixão é muito bom mesmo. me diverti muito com mash. sganzerla tá alem da minha compreensão, ele me parece um cinema novo levado às ultimas consequencias, sem aquele ranço pseudo-comunista de vamos fazer a revolução através do cinema q o glauber tinha.

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