Cem anos de James Mason – Parte 5

49- Candlelight in Algeria (George King, 1944)Candlelight in Algeria (1944)Ah, os problemas morais do bigode! Aqui temos a nossa heroína vivida por Carla Lehmann passando a primeira metade do filme a desconfiar do caráter de Mr Mason só porque ele ostenta um bigode! Não, isso não é uma teoria, a personagem deixa claro que não pode confiar em alguém com um bigode daqueles e se Mason já é pouco confiável sem, imagine com. George King era aquele tipo de cineasta que aprendeu a fazer cinema na raça, lotou os anos 30 com dezenas de filmes B e culminando nos anos 40 com este Candlelight in Algeria, o melhor trabalho de sua carreira, um thriller de espionagem com toque de Pepe Le Moko e cheio de bom humor, onde Mason é o agente que precisa tirar um filme da Algéria sem que os nazis o descubram primeiro, num típico filme de tempos de guerra onde a situação colaboracionista dos aliados era um mote comum nas telas, aqui transposto como um quadrado amoroso entre um francês, uma americana, um inglês e uma francesa, ou seja, a guerra também ia para a esbórnia. Mas que fique bem claro que as coisas só começam a dar certo depois que Mason raspa o bigode, hein!

50- Paura in città (Giuseppe Rosati, 1976)
Paura in città (1976)Mason encarna o burocrata em um poliziottesco novamente, mas desta vez ele nem é o canalha. É um bom filme, com todas as qualidades e também os defeitos do gênero. Maurizio Merli segura as pontas desfilando com seu habitual tipão abigodado em busca de vingança, no papel do tira durão que faz justiça com as próprias mãos à la Dirty Harry, sempre contando com os panos quentes da personagem de Mason.

51- Chamada para um Morto (The Deadly Affair, Sidney Lumet, 1966)The Deadly Affair (1966)Espécie de continuação de O Espião que Veio do Frio baseado no mesmo Le Carré, Mason parece começar aqui sua parceria com Lumet que daria ainda mais três crias, mas na verdade este já é o seu terceiro trabalho com o cineasta, os dois primeiros foram longas para tv da série Playhouse em 1960. É um thriller da guerra fria interessante, mas menor na carreira de Lumet e Mason, o bacana é ver o desfile de atores lendários de todos os países possíveis pipocando pela tela: Lynn Redgrave, Corin Redgrave, Maximilian Schell, Harriet Andersson, Simone Signoret, David Warner, Roy Kinnear, Harry Andrews e Max Adrian (quem diria era conhecido como Marlene Dietrich!). Outra coisa que chama a atenção é a trilha sonora composta por Quincy Jones e cantada por Astrud Gilberto, algo peculiar já que mesmo no anos 60 não era usual um suspense lançar mão de uma trilha exclusivamente bossa nova.

52- Mandingo – O Fruto Da Vingança (Mandingo, Richard Fleischer, 1975)Mandingo - JAMES MASONEm Mandingo Mason é muito mau! Mau mesmo! Ele usa crianças como descanso de pés para curar reumatismo! Ele interpreta aqui um daqueles fazendeiros sulistas mui distintos que usavam escravos como capacho, enquanto seu filho e nora (Perry King e Susan George, of course!) achavam utilidades mais interessante para os escravos. É uma bobagem a fama de filme ruim e a targeta de blaxploitation que o filme leva, não é uma coisa e muito menos outra, o único porém é a maldita versão cortada que vi e não gosto que cortem coisas dos filmes, a não ser que seja literalmente em cena, oras.

52- Ratos do Deserto (The Desert Rats, Robert Wise, 1953)Desert ratsMason volta a encarnar Rommel, agora sem o potencial humanista visto em A Raposa do Deserto e e sob o ponto de vista dos aliados como o estrategista que aterrorizou o norte da África no início dos anos 40, mesmo assim é tratado com muita dignidade e respeito pelas mãos de Mr Mason. Vale lembrar também que este é um dos últimos trabalhos de Robert Newton para o cinema, enquanto Richard Burton está mais gatíssimo do que nunca.

53- Torpedo Bay (Beta Som, Charles Frend/Bruno Vailati, 1963)Torpedo Bay (1962) - JAMES MASON & Gabriele FerzettiPrimeiro flerte de Mason com o cinema italiano, no qual se tornaria figurinha fácil nas próximas duas décadas. Nessa espécie de Casablanca dos mares, Mason é um capitão da marinha Britânica que encurralou o comandante de um submarino italiano, Gabriele Ferzetti, no norte da África, enquanto estão no mar são inimigos, mas na terra são amigos tanto quanto suas respectivas tripulações, numa clara atmosfera pacifista. Evidente que um duelo entre Mason e Ferzetti é sempre bem vindo, especialmente porque Ferzetti é um dos melhores atores italianos de sempre e criminosamente subestimado, é um grande gozo vê-lo num filme dividindo dignidade com alguém como Mason.

54- The Secret Sharer (Face to Face, John Brahm, 1952)Face to Face - The Secret Sharer (1952)Média-metragem baseado em Joseph Conrad e pode-se notar o quanto Mason nasceu para encarnar personagens provenientes de tal autor: o típico homem solitário amoral tendo de lidar com situações externas que lhe fogem ao controle.

55- A Hora Do Vampiro (Salem’s Lot, Tobe Hooper, 1979)Salem's Lot - David Soul & James MasonEsse é do tempo em que o Tobe Hooper era bom e o Stephen King ainda era novidade nas telas. Demorou, mas Mr Mason acabou entrando na vibe de vampiros, aliás, taí um homem que entrou em todas as vibes possíveis, desta vez ele pegou o Max Schreck (fugido da Alemanha dos anos 20!) e foi infernizar o Hutch numa cidadela americana, personificando uma espécie de Renfield moderno e cheio de elegância.

56- Assassinato num Dia de Sol (Evil Under the Sun, Guy Hamilton, 1982)Evil Under the Sun - Peter Ustinov, Colin Blakely, Jane Birkin, Nicholas Clay, Sylvia Miles, James Mason, Diana Rigg, Dennis Quilley, Roddy McDowall, Emily HoneOlhe este elenco! Mais um da série “Peter Ustinov é Hercule Poirot e leva um elenco lendário a tira colo”, agora com a questão a ser resolvida: todo mundo odeia Arlene, quem a matou? Mason e Sylvia Miles personificam o casal Gardener num puro ato de comédia, onde ele é o eterno marido sofredor e ela é uma daquelas senhoiras verborrágicas e insuportáveis.

57- Lord Jim (Richard Brooks, 1965)Lord Jim - James MasonI think his majesty has pretensions to heroism a form of mental disease induced by vanity. Mason encarnando um personagem de Joseph Conrad novamente, aparecendo num papel chave apenas ao final, o pirata Gentleman Brown, claro. Quem liga para Peter O’Toole quando há Mason e Eli Wallach roubando todas as cenas? Devo dizer que é mais do que esperava de uma aventura dramática conduzida por Richard Brooks, ele sempre teve um certo jeito para dramas intimistas, mas nada de muito excepcional e, sabendo do que deveria ser em densidade visual e filosófica uma adaptação de Conrad, tinha minhas dúvidas da capacidade do cineasta até ver o filme. Diria que visualmente Lord Jim sobrepujou-se a Aguirre na influência que exerceu sobre Apocalypse Now, alguns shots de Jim lembram ferozmente a fotografia daquela outra adaptação mais famosa de Conrad. Charles Marlow é quem dá o arremate narrativo também do filme, preservando um pouco da atmosfera de várias novelas de Conrad que o tem como narrador.

58- Duffy, o Máximo da Vigarice (Duffy, Robert Parrish, 1968)Duffy - John Alderton, James Fox, James MasonEis que chega a santíssima trindade dos James: Fox, Mason e Coburn. Melhor: acompanhados por John Alderton e Susannah York. De novo Mason chega com seu pequeno papel e domina tudo, o diferencial aqui é que ninguém coloca Mason e Coburn em cena numa comédia de roubo sabendo quem realmente vai se dar bem no final, a questão que permeia todo o fiilme é qual dos dois vai ser o filho da puta maior até que tudo termine? Típico caper dos anos 60, com muita ironia e cinismo, misturando a aristocracia endinheirada inglesa com o clima de contracultura, especialmente pelo personagem título encarnado por James Coburn, um americano meio beatnik.

59- A Ilha nos Trópicos (Island in the Sun, Robert Rossen, 1957) Island in the Sun (1957) - JOHN WILLIAMS & JAMES MASONEscândalo! Casais inter-raciais na Hollywood dos anos 50! Brancos e negros trepando no Caribe! Filme corajoso, Robert Rossen possui uma filmografia bem curta, mas sempre teve culhão para enfiar a agulha embaixo da unha de quem quer que fosse. Mason é o cara já meio debilitado em sua sanidade (incluse com referência a Crime e Castigo) e pira de vez quando descobre sua ascendência negra. Fotografia de Freddie Young e trilha sonora massiva de Harry Belafonte embalam o clima deslumbrante do filme.

60- Captive Audience (The Alfred Hitchcock Hour, Alf Kjellin, 1962)Captive Audience (1962)Num dos melhores episódios do seriado apresentado pelo velho Hitch, Mason encarna uma espécie de versão masculina de Catherine Trammel e volta a contracenar com Angie Dickinson, agora numa dinâmica aparentemente mais amigável do que viveram em Cry Terror. E sim, Mr mason fica muito bem de óculos.

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Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

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