Filmes bacanas de cada ano que o cinema viveu: 1966

1- O Incrível Exército de Brancaleone (L’ Armata Brancaleone, Mario Monicelli)L'armata Brancaleone (1966)Antes de Monty Python houve Mario Monicelli & Co. Top 5 melhores comédias de sempre, sátira política ácida e obra prima da linguagem cômica. Este blog deveria se chamar Brancaleonando e não Quixotando em homenagem a personagem ainda mais patética do que o próprio Quixote.

2- Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, Jonathan Miller)The Wednesday Play - Alice in Wonderland (1966)Peter Sellers, Peter Cook, Michael Redgrave, John Gielgud, Michael Gough, Finlay Currie, Leo McKern, Wilfrid Brambell, Alan Bennett, Eric Idle, Wilfrid Lawson e Jonathan Miller? Não à toa esta é a maior adaptação da obra de Lewis Carroll e o Tim Burton vai ter que pastar muito para alcançar a mesma excelência, nem que consiga uma Alice tão depressiva e fantasmática quanto esta aqui. De brinde ainda podemos ver Cook e Sellers dividindo cena pela segunda vez no mesmo ano, além daquele impagável momento de The Wrong Box. Coisa da BBC.

3- Uma Bala para o General (El Chuncho, quien sabe? Damiano Damiani)El chuncho, quien sabe (1966)Se é do Damiani não é necessário dizer que é político, não? Se o Faccia a Faccia do Sollima estava para Dostoiévski, este do Daminani está para Shakespeare na mesma proporção. Embora lotado de personagens emblemáticas, a personagem de Klaus Kinski é a mais interessante, não só porque o homem nasceu para fazer cara de fanático religioso, mas porque a sua posição dentro da narrativa é a mais complexa. É lógico que o Kinski é o irmão do Volontè, não está na cara?

4- Deliciosas Loucuras de Amor (Morgan: A Suitable Case for Treatment, Karel Reisz) Morgan A Suitable Case for Treatment - David WarnerFato: David Warner é espetacular. Warner é Morgan, um cara obcecado por gorilas e comunismo, é doentiamente engraçado, possui falas sensacionais e não vive no que se pode chamar de “realidade”. Nada paga esse tipo de exemplar da british new wave, extremamente influenciado por gente como Spike Milligan, Peter Cook e Richard Lester, esse trabalho de Reisz é criminosamente esquecido quando não odiado.

5- It’s the Great Pumpkin, Charlie Brown! (Bill Melendez)
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.Linus é rei.

6- Batman: The Movie (Leslie H. Martinson)BATMANAquele tubarão é uma das coisas que mais me fizeram rir assintindo a um filme. Impagável.

7- Made in U.S.A. (Jean-Luc Godard)Made in USANum dos mais divertidos filmes de Godard, ele presta homenagem ao que há de melhor no cinema e literatura pulp norte-americano. Não por acaso Godard pegou o papa pulp Donald Westlake e converteu a seus propósitos. Também marca a morte do cinema de Godard pelo qual tenho apreço, ou seja, sem casamento com Karina = sem alma.

8- Como Roubar Um Milhão de Dólares (How to Steal a Million, William Wyler)How to Steal a Million - Eli Wallach & Audrey HepburnNão existe nada mais charmoso do que Audrey Hepburn e Peter O’Toole nos anos 60, tá bom, talvez só Audrey Hepburn e Cary Grant, tá bom de novo, no mesmo ano também há Michael Caine e Shirley MacLaine no similar Gambit. E é lógico que todos vemos a Audrey Hepburn casada com o Eli Wallach. Eli não deveria querer casar com a Audrey e sim comigo.

9- O Dia da Desforra (La Resa dei Conti, Sergio Sollima) La resa dei conti (1966)Ninguém atira faca na testa das pessoas como Tomas Millian. Só para lembrar o especial Sollima d’O Dia da Fúria!

10- Modesty Blaise (Joseph Losey)Modesty Blaise - Dirk BogardeEsse é um daqueles filmes onde tudo que houve de melhor nos anos 60 se une: Monica Vitti, quadrinhos, Joseph Losey, kitsch, Terence Stamp em tempos de homem mais lindo do mundo, espionagem, Tina Aumont, auto-sátira, Harry Andrews, cenários delirantes, Scilla Gabel, figurinos espalhafatosos e Dirk Bogarde mais bichona do que nunca!

Real melhor filme do ano: Persona (Ingmar Bergman)Persona (1966)Persona é mesmo o meu terceiro favorito de sempre. Mas no mesmo ano ainda consta obras indefectíveis tais como: Au hasard Balthazar (Bresson), La battaglia di Algeri (Pontecorvo), Blow-Up (Antonioni), Who’s Afraid of Virginia Woolf? (Nichols), Django (Corbucci), Seconds (Frankenheimer), Operazione Paura (Bava) e, lógico, Il Buono, il Brutto, il Cattivo (Leone)

Nota update: Que conste aqui o falecimento de meu avô de 101 anos. O fim de uma era.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

12 comentários em “Filmes bacanas de cada ano que o cinema viveu: 1966

  1. Nunca pensei que esse Bala Para o General fosse tão bom. Agora sim quero ver.

    E muito legal lembrar de Made In U.S.A., não é sempre que a gente vê esse Godard num top.

    Mas senti falta de El Dorado do Hawks, hehe, já que acho seu melhor western.

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  2. Eu fico sempre abismada o quanto as pessoas repudiam o Made in USA, quando o considero um dos filmes mais cool do Godard.
    Uma Bala para o General foi uma revelação quando o assisti, fui vê-lo sem nenhuma expectativa e saí com um dos melhores spaghettis já feitos.
    Nem sou tão fã do El Dorado, acho que é por ser remake do Rio Bravo, o qual considero a última bolacha do pacote do western hawkiano.

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  3. Oi Dri

    Esse Brancaleone vale de um tudo: Vitorio Gassman é o cara!!! E aqui aquela velha, boba, mas via lá, deliciosa rixa de fã: Mastroianni o homem do cinema; Gassman o homem do teatro.

    acho que nesse filme ele compromete essa história!

    ( se bem que deve haver uma ou duas montagens teatrais maravilhosas de Mastroianni)

    Duas Cenas do filme que aco ótimas: A cidade com a peste e a procissão dos desgraçados…põ, tem tbm a cena no império bizantino…Ichi dai vai.

    ( vou reassistir só pra trocar cenas com vc. Que tal?)

    abs e até

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  4. Léo, deixa eu te confessar uma coisa e que ninguém nos ouça: sempre achei o Gassman muito melhor do que o Mastroianni. O Marcello faz o tipo minimalista e nasceu para estar diante de uma câmera, mas o Gassman é hiper-mega-foda seja no drama ou na comédia, seja nas pequenas coisas ou no exagero e a bem da verdade o considero o maior ator italiano que já vi, isso porque nunca cheguei perto dele num palco pelo qual é tanto reverenciado. Agora, Brancaleone é um caso sério, o Gassman e sua imensa dignidade sendo tão deplorável!!! Não tem preço.

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  5. Não tem problema. Pega a Wallach pra você e deixa a Audrey toda pra mim.

    Sem medo admitir : também acho Gassman melhor que Mastroianni. Depois de ver “Anima Persa” qualquer dúvida minha desapareceu.

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  6. Caraça, não é medo não, é respeito, Marcello nunca me impressionou de verdade comparado ao Gassman, mas tenho um tremendo respeito, especialmente pela extensão felliniana. Se eu tivesse medo de assumir alguma coisa, eu não diria que acho o Eli Wallach um puta cara sexy, oras. hehehe. Quanto ao Anima Persa, é fato: os melhores trabalhos do Gassman são com o Risi e com o Monicelli.

    Lucas, não vi nenhum!!! Mas se tem alguém que nunca me decepciona é o Okamoto, só há pouco tempo soube que A Espada da Maldição foi lançado em DVD no Brasil, acho que foi o único filme dele que foi lançado aqui, não?
    Tá na hora de tentar repassar alguns cineastas, Tarkovsky é um deles, Eisenstein tenho que ver mais e desesperadamente tenho que atingir toda a filmografia do Nicholas Ray.

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  7. Eu nem sabia que tinha esse do Okamoto em DVD, só que passou em SP numa mostra há algum tempo. E Andrei Rublev é o monolito do Tarkovsky!

    Vou pegar mais trechos do livro do Clarke pra postar, tem coisas sensacionais ali. E pensar no que eles quase filmaram é o melhor de tudo – imagina aí o HAL andando pela nave, cientistas falando sobre extraterrestres antes do início do filme(!), ou então um capítulo inteiro mostrando o que aconteceu entre o osso e a nave (imagina não ter aquele corte!).

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    1. Foi na última mostra onde teve um especial dele, a viúva até esteve presente. Assisti 3 dele.
      2001 sem a transição do osso para a nave perde toda a razão de ser. Obrigada eternamente pelo filme ser exatamente do jeito que é.
      Desculpa se nada do que digo faz sentido, mas há dias não durmo direito e nem sei o que estou pensando ou escrevendo.

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  8. Dois de 1966 que eu incluiria numa lista de favoritos são Caçada Humana, do Arthur Penn (com Marlon Brando numa cena apanhando feito mulher de brigadiano, como tanto gostava) e Cul-de-Sac, que talvez seja o meu preferido do Polanski. Mas o melhor filme do ano é mesmo Persona, não tem como ser outro (embora Blow-Up e o do Leone cheguem perto).

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  9. Brancaleone é sensacional!
    A cena da cidade com a peste é das coisas mais hilárias dessa vida…

    E esse teu post me fez lembrar que eu tenho que fazer uma coisa que queria fazer a muito tempo: colocar a musiquinha de abertura do filme como toque de celular. Yey!

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