13- Meu Reino por um Amor (The Private Lives of Elizabeth and Essex, Michael Curtiz, 1939)É nesse filme que consta o famoso tapão na cara que Davis deu em Flynn durante uma cena, aquela expressão de indignação era real. Os chefes dos estúdios eram umas belezinhas, neste caso, Jack Warner mesmo sabendo da falta de afinidade entre Davis e Flynn, colocou-os novamente como casal em um filme que Davis sonhara dividir com Laurence Olivier. Infelizmente eles faziam um grande duo na tela e nunca mais voltaram a contracenar. Décadas mais tarde Miss Davis confidenciou a Miss Havilland que Flynn realmente tinha feito um ótimo trabalho como Conde de Essex e que ela esteve errada durante todo o tempo a respeito dele (ah! nada como a maturidade para ajeitar certas coisas!) e para isso Miss Haviland nem precisou aplicar o seu notório corretivo Hush…Hush, Sweet Charlotte.
14- O Gavião do Mar (The Sea Hawk, Michael Curtiz, 1940)E Mr Flynn se vinga de Miss Davis. Se Bette Davis queria Laurence Olivier para o papel que ficou por conta de Flynn em The Private Lives of Elizabeth and Essex, eis que Mr Flynn toma a rainha Elizabeth vivida por Flora Robson em Fire Over England e que alí dividia cena com Sir Olivier. Tal qual o próprio Fire Over England, The Sea Hawk faz um paralelo entre a inquisição espanhola e a ascenção nazista na Europa daqueles idos, um tipo de preocupação que o austro-húngaro Michael Curtiz deixava transparecer em todos os seus filmes da época, principalmente em Casablanca. Não gosto deste filme de piratas do duo Flynn-Curtiz tanto quanto Capitão Blood, mas ainda é um grande exemplo do gênero, além do mais, Mr Flynn está mais deslumbrante do que nunca. Ó céus, que homem lindo.
15- Perseguidos (Northern Pursuit, Raoul Walsh, 1943)É fato: Raoul Walsh sabia tudo e um pouco mais. Sempre tive sérios problemas com filmes como propaganda de guerra, mas o Walsh é daqueles artesões que nos fazem esquecer os intentos belicistas por trás de tais filmes. Ó céus, o que é aquela cena do jantar na prisão com o coronel alemão enojado por se sentir como um judeu numerado num campo de concentração? Esse momento vale o filme e entraria fácil numa antologia de melhores sequências da carreira de Walsh, mas as coisas não param por aí, o filme é um desbunde artístico como um tôdo e Errol Flynn é exatamente o tipo de ator necessário aos intentos de Walsh, mesmo este trabalho não estando entre as melhores colaborações da dupla.
16- Uma Cidade que Surge (Dodge City, Michael Curtiz, 1939)Ai ai ai ai, que homem lindo. Nunca vou cansar de repetir, mas Mr Flynn acaba desviando a atenção fazendo com que tudo ao redor se torne dispensável. Dodge City é um dos filmes em que ele está mais lindo, sobretudo por conta da deslumbrante fotografia colorida, raramente acho que pessoas são melhores fotografadas em technicolor do que em branco e preto, mas Mr Flynn é um desses casos raros aos meus olhos e poderia passar toda a eternidade diante de uma câmera sem nem sequer se mover, só existindo. Esse homem é uma paisagem, uma obra de arte, se John Ford tinha o Monument Valley, Curtiz e Walsh tinham Errol Flynn.
17- O Príncipe e o Mendigo (The Prince and the Pauper, William Keighley/William Dieterle, 1937)Definitiva e melhor versão da história de Mark Twain, onde Flynny encarna o porco-espinho Miles Hendon e Claude Rains está mais vilanesco do que nunca. Curioso constatar que exatos 40 anos depois o igualmente cachaceiro Oliver Reed se valeu do mesmo papel de Miles Hendon na versão de Richard Fleischer.
18- A Carga da Brigada Ligeira (The Charge of the Light Brigade, Michael Curtiz, 1936)200 cavalos. Reza a lenda que foram mortos cerca de 200 cavalos durante essa filmagem. É um filme impressionantemente violento para a época em que foi filmado, inclusive se visualiza um massacre de crianças, algo não muito comum nos anos 30 mesmo para filmes de guerra. Flynn está lindo e másculo como sempre naquela roupa do exército britânico. Ah, também é dessa filmagem a famosa frase de Curtiz Bring on the empty horses! que acabou virando o título da autobiografia de David Niven, um coadjuvante da Brigada.
19- Patrulha da Madrugada (The Dawn Patrol, Edmund Goulding, 1938)Bom filme sobre pilotos de avião durante a primeira guerra, num tom amargo e estranhamente anti-belicista para um tempo à beira da Segunda Guerra. O trunfo aqui é a dinâmica e o entrosamento dos atores em torno de suas personagens, pois algo que vou dizer até o fim da vida é que até hoje ninguém conseguiu se equiparar em excelência às cenas aéreas gravadas por Howard Hughes em Hells Angels e o filme de Goulding não é diferente em comparação, especialmente porque foram reutilizadas da versão de 1930. Pelas minhas contas Flynn e David Niven compartilharam apenas dois filmes, o que é um pecado, eles eram sensacionais juntos.
20- As Aventuras de Don Juan (Adventures of Don Juan, Vincent Sherman, 1948)DEMOROU. Ainda na cola de John Barrymore e Douglas Fairbanks, eis que o homem finalmente se joga na personagem que nascera para encarnar. Era para o Walsh ter dirigido esta versão, mas deu merda, vai ver por isso Flynn roubou a bandana do Fairbanks em Ladrão de Bagdá, filme este que considero a obra prima de Walsh. Apesar de Don Juan ser um grande exemplo de capa-espada, esse período foi o início da decadência de Flynn, o cinema em Hollywood estava mudando, o star system estava morrendo e a Golden Age estava em seu canto do cisne.
É assustador como Flynn envelheceu de repente por conta de sua vida desregrada, de Santo Antonio para Don Juan passaram-se apenas 3 anos, mas a face dele fazia parecer 10, especialmente porque entre esses filmes ele adoeceu (tinha tuberculose, malária, coração fraco e dor nas costas!) e somou heroína e morfina ao alcóol na sua dieta básica. Flynn sempre aparentou ser mais velho do que realmente era, em Capitão Blood ele tinha uns 25, 26 anos e ninguém daria menos de 30 (a experiência em excesso ficava evidente), mesmo assim em Don Juan ele continua lindo e com corpão, aproveitando a deixa para usar as calças mais indecentes de sua carreira. Ele também aproveita para exorcizar certas coisas sobre sua própria vida, especialmente em relação às acusações de estupro estatutário, pois nem sempre ele era o sedutor irresistível da história como bem ele se defendeu certa vez: I don’t have to seduce girls. For Christ’s sake, I come home and they’re hiding under my bed.
21- Mademoiselle Fifi (It’s a Great Feeling, David Butler, 1949)Pronto. Estraguei o final surpresa para quem não viu o filme. Essa espécie de precursor de Cantando na Chuva é um veículo para o trio Dennis Morgan, Doris Day e Jack Carson, onde há zilhões de participações divertidíssimas de astros e cineastas da Warner: Raoul Walsh, Joan Crawford, Ronald Reagan, Jane Wyman, Edward Robinson, Michael Curtiz, Gary Cooper, Danny Kaye, etc etc. Doris Day passa o filme todo reclamando que não deveria ter deixado o namoradinho de infância para seguir a carreira artística, até que enfim ela retorna para seu homem e ele é Errol Flynn.
22- Caravana de Ouro (Virginia City, Michael Curtiz, 1940)Hahahaha olha o Bogie bandidão mexicano com bigodinho de Errol Flynn! Minha gente, não havia nada mais oposto no mundo do que Bogart e Flynn, tudo que um tinha de discreto e mal humorado, o outro tinha de flamboyant e radiante, é uma dádiva poder vê-los dividindo cena. Mas não apenas estes ícones estão presentes, minha diva pre-code Mirian Hopkins e Randolph Scott também dão o ar da graça, além do usual staff flynniano formado por Guinn “Big Boy” Williams e Alan Hale. Sempre rolou um certo preconceito com Flynn nos westerns, em geral a galera reclama que ele não conseguia ser macho o suficiente, que ele era “legal demais”, é logico que é só homem que reclama dessas bobagens, Flynn era gostosérrimo, ora bolas, quem se importa com o resto???
23- Nunca me Diga Adeus (Never Say Goodbye, James V. Kern, 1946)Hahahaha Flynn imitando Bogie! Essa sem dúvida é a grande piada desta comédia romântica, numa cena em que se expurga a maldição de Flynn, como bem menciona para sua filha no filme: Se você pode me imaginar como Robin Hood, por que não como um cara durão? e logo depois vemos a explicação do porquê. Não obtive nenhuma confirmação, mas reza a lenda que é o próprio Bogart quem faz a dublagem dessa cena, coisa que acredito, pois a voz era idêntica. Roteiro de I.A.L. Diamond, um dos mais habitués de Billy Wilder.
24- O Homem Perfeito (The Perfect Specimen, Michael Curtiz, 1937)Prestou atenção no título? Pois então, é isso que a gente pensa quando olha para Mr Flynn. Comédia romântica onde Flynn e Joan Blondell compensam cada segundo em cena, com direito aos indefectíveis May Robson e Edward Everett Horton como elenco de apoio. Apesar de Michael Curtiz ser açogueiro demais para se infiltrar no screwball, o filme não sofre em grande quantidade com isso, nos legando momentos deliciosos (tal qual o astro principal!), especialmente quando Flynny mostra seus talentos como boxer.
25- O Mestre da Vingança (The Master of Ballantrae, William Keighley, 1953)Aqui Flynn tinha apenas 43 anos mas aparentava ter bem mais, o que torna especialmente depressivo assistir seus filmes dos anos 50, mais deprimente ainda é o fato deste ser o ponto final de seu reinado na Warner, depois de 18 anos de muitos conflitos e lucros, Flynn foi gentilmente convidado a se retirar e qualquer semelhança com Nasce Uma Estrela não é mera coincidência, “matinée idols” problemáticos eram assim descartados desde o início dos tempos. No mais é um filme bacaninha, especialmente algo que some Roger Livesey + Piratas + Errol Flynn + Escoseses + Robert Louis Stevenson, além da habitual fotografia deslumbrante de Jack Cardiff.
Mas o grande mistério pairando é: depois de todas aquelas roupas espalhafatosas por que Flynny não foi capaz de usar um reles kilt? Essa sim foi a maior bobagem que ele fez em sua vida.
26- A Noiva Curiosa (The Case of Curious Bride, Michael Curtiz, 1935)E Flynn conhece Hollywood. E Michael Curtiz. O homem estréia nos EUA no papel do homem morto (e que cadáver!) em um dos divertidíssimos filmes onde Warren William encarna Perry Mason, lá pelo final do filme ele aparece vivo num flashback espancando a suposta personagem-título e brigando com o suspeito de assassinato, daí finalmente sabemos o que na verdade ocorreu, ou seja, um bom começo. Outro bom começo dessa época foi ter conhecido a ex-mulher de Curtiz, dona Lili Damita, que se tornou a primeira Mrs Errol Flynn e foi responsável direta na ascenção de sua carreira.
27- Luz de Esperança (Green Light, Frank Borzage, 1937)Flynny vestido de médico. Mmmmm… Borzage era um artista e tanto, além de ser pai de Douglas Sirk e um dos grandes delineadores do cinema americano, é sempre um prazer estudar as nuances de seu trabalho, nas mãos de um diretor medíocre este filme se tornaria a maior das vias-crucis, mas Borzage transforma este melodrama numa grande aula de como se fazer cinema. É com ele que Flynn se infiltra num ambiente para além do swashbuckler.
*Da série: Este post foi programado, eu não estou aqui!