Centenário de Elias Kazanjoglou – Parte 2

13- O Compromisso (The Arrangement, 1969) The Arrangement (1969) Kirk DouglasEveryone become a salesman here. If you don’t sell anything else, you sell yourself. Ours is a society dominated by business, and the economic pressure even at the upper-middle-class level is fantastic. The epitome of this business civilization is the advertising industry. Everyone feels some degradation, some violation of self, when they spend their lives selling. (Kazan: The Master Director Discusses his Films). Não vou dizer que se você é romancista e cineasta jamais adapte o seu próprio livro, pois Kazan já o fizera muitíssimo bem com America, America, o problema em The Arrangement é adaptação às mudanças do próprio cinema. Kazan quis se adaptar a um estilo que não lhe caiu bem, chega a ser mesmo irritante o estilo de montagem, o uso da trilha sonora e a inserção de devaneios constantes, essa certamente não era a praia do Kazan, como admirador confesso da Nouvelle Vague parece que ele quis fazer algo como Pierrot Le Fou, mas as coisas ficam bem bizarras quando se força a encarar um estilo que não é o seu.
O livro tinha grande potencial para adaptação, tendo o mesmo tom de coisas que voltariam à moda nos anos 80 e 90 como Beleza Americana, Clube da Luta e Como Fazer Carreira na Publicidade. Notoriamente a semelhança fica mesmo por conta de Mad Men, quando comecei a assistir o seriado, o livro de Kazan vinha à mente constantemente, digamos que Mad Men é tudo que Kazan poderia ter feito com seu filme mas dolorosamente desperdiçou.
Vale lembrar que o livro do homem é basicamente uma autobiografia “camuflada” de seu relacionamento com a excelente atriz Barbara Loden, com quem trabalhou no cinema em Wild River e Splendor in the Grass.

14- Laços Humanos (A Tree Grows in Brooklyn, 1945)A Tree Grows in Brooklyn 91945)The one thing I really liked about that film was the little girl. By far the most authentic thing about the film is Peggy Ann Garner’s face. Nothing compares with it except maybe Jimmy Dunn’s face. He was terrific. (Kazan: The Master Director Discusses his Films)
Kazan e seu assistente de direção conhecido como Nicholas Ray se encontram neste filme que delinearia muito do cinema futuro de ambos, em específico o traço da desestrutura familiar, um tema que foi muito caro em suas respectivas carreiras.  É mais um desses “filmes de ator” que Kazan fez e reitero o fato de que James Dunn era absolutamente apaixonante.

15- A Luz é para Todos (Gentleman’s Agreement, 1947)Gregory Peck & Dean Stockwell in Gentlemen's AgreementNo matter what I think of it today, what I remember most about Gentleman’s Agreement is that at time no one said ‘jew’. When it was being made, all the rich jews in California were against it. And the Catholic Church was against it because they don’t want the heroine to be a divorcee. There were hell of lot people who said to Zanuck, ‘We’re getting along all right. Why bring this up?’ (Elia Kazan Interview – Stuart Byron & Martin Rubin, 1971)
Esse é um dos filmes de que Kazan não gostava, porque é um produto de estúdio, com muita relevância história e nulidade autoral. Zanuck possuía um tino danado para jogar com esses filmes polêmicos e gostava de colocar a bomba na mão do Kazan porque o cineasta sempre fora um homem de coragem ao assumir seus pontos de vista e atitudes, não importando a merda que daria. Sob o ponto de vista atual Gentleman’s Agreement é bem truncado, mas se localizado no pós-guerra dá para imaginar a bomba que caiu nas casas das famílias cristãs de toda a América.

16- O que a Carne Herda (Pinky, Elia Kazan/John Ford, 1949)PINKY - Ethel Waters, Jeanne CrainSome years later I said to Zanuck, “Jack Ford never had shingles, did he?” And he said, “Oh hell, no. He just wanted to get out of it; he hated Ethel Waters and she sure as hell hated him”. I also think maybe he didn’t like the whole project. (Kazan: The Master Director Discusses his Films)
Mesmo possuindo um tema pelo qual Kazan tinha fascínio e passaria o resto de sua carreira reiterando-o, ele ainda não estava tão ciente da linguagem cinematográfica, deixando o peso do filme nas mãos das duas (grandes) atrizes Ethel Waters & Barrymore. Ford começou o filme, mas saiu por falta de afinidade com o assunto tão espinhoso, Kazan era um tipo mais moldado para mexer num vespeiro com direito a romance interracial e propaganda para que se trate o negro como um igual em fins dos anos 40. Está longe de ser um dos melhores filmes do homem, mas a sua importância histórica é inegável.

17- O Último Magnata (The Last Tycoon, 1976)The Last Tycoon (1976) Ray Milland, Tony Curtis, Theresa Russell, Robert De Niro, Jeanne Moreau, Robert MitchumNão gosto desse filme. Não interessa quantas estrelas dão as caras e nem o quanto o Irving Thalberg era interessante, muito menos com quantos scottfitzgeraldeharoldpinters se escreve um roteiro, o filme é muito chato e não tenho nada a dizer, mas justamente por isso talvez seja hora de revê-lo.

18- Os Saltimbancos (Man On a Tightrope, 1953)Man on a Tightrope (1953) Terry Moore & Cameron MitchellI hated McCarthy. It was embarrassing to be on the same side as him. But I didn’t terrorize people. He did. I didn’t lie. He lied. I never said there were so many and so many, holding up a blank piece of paper, claiming it was a list of subersives in the State Department. He did. He lied. I never told a lie in my life about that stuff. It was terrible to be aligned with McCarthy. But as far as doing it for money, it’s fantastic, really, because in the first place they didn’t threaten me and in the second place they couldn’t have and in the third place I didn’t need a job in Hollywood. The blacklist did not extend to Broadway and I was at the top of my theater career. All my testifying did was lose me certain things. I knew that I’d lose Arthur Miller’s plays. I knew a lot of guys would turn against me, which they did. I’ve lived through that. In some ways the whole experience made a man out of me because it changed me from being a guy, who was everybody’s darling and always living therefore for people’s approval, to a fellow who could stand on his own. It thoughened me a lot. I’m not afraid of anybody. People say that too – that I was afraid. I never was in my life. They avoided my eye. I didn’t avoid theirs. I have some regrets about the human cost of it. One of the guys that I told on I really liked a lot… well, pretty much. I really thought it was killing him. (Kazan: The Master Director Discusses his Films)
É bem deprimente carinha fazer filme para provar alguma coisa que não é. Além de Man On a Tightrope ser ruim, parecendo desesperado e feito às pressas, o contexto em que foi feito atrapalha ainda mais, se Kazan estivesse defendo uma idéia e não a si mesmo quando o fez, meu olhar sobre o filme talvez não fosse tão decepcionado.

19- Mar Verde (The Sea of Grass, 1947)The Sea of Grass (1947) Spencer Tracy & Katharine HepburnThe only miserable experience I had was The Sea of Grass. I should never have made that film, or I should have quit. (Kazan: The Master Director Discusses his Films)
Geralmente não concordo quando cineastas renegam suas obras, pelo contrário, sempre defendo que os caras são demasiado auto-críticos, mas dessa vez tenho que concordar com o desprezo: ô filminho sem eira nem beira. Há um elenco sensacional, há um roteiro promissor, mas Kazan nunca foi talhado para trabalhar no Star System, tanto que o cinema dele só pegou mesmo no tranco durante os anos 50 quando aquele sistema morreu definitivamente, muito por culpa do próprio Kazan que ajudou a instaurar a revolução.

Gadget Kazan – o ator

Uma Canção para Você (Blues in the Night, Anatole Litvak, 1941)Blues in the Night (1941) KazanBlues in the Night é o berço de muita gente, além de Kazan como ator, há Don Siegel trabalhando na montagem e Robert Rossen lidando com o roteiro. Um daqueles filmes mais lembrados por sua trilha sonora do que por qualquer outra coisa, é um noir-musical-melodramático, se é que tal definição possa existir. Aqui o senhor Kazan tem a honra de representar um membro da banda protagonista da história, ao som de muita música do duo Harold Arlen/Johnny Mercer, a surpresa fica por conta de ser um papel importante e não apenas um cameo, além de provar que se seguisse a carreira de ator teria um bom futuro, possuía desenvoltura nata e se adequou perfeitamente ao ritmo do filme, com seus diálogos rápidos e edição acelerada para acompanhar o ritmo da música.

Dois Contra uma Cidade Inteira (City for Conquest, Anatole Litvak/Jean Negulesco, 1940)City for Conquest (1940) Elia Kazan & James CagneyApesar de ser um dos melhores amigos do protagonista, o papel de Kazan aqui não é tão grande quanto em Blues in the Night, mas é de razoável importância, especialmente se ele faz as vezes do gangster-mor e isso num filme com Cagney é uma grande honra. Tenho o mesmo tipo de relação com o cinema do Anatole Litvak para com o do próprio Kazan, em geral gosto bastante de alguns do trabalhos de ambos, mas nada que faça com que eu professe um WOW e é interessante o fato de Litvak ter sido esse grande introdutor de Kazan em Hollywood.
E não interessa se o filme é bom ou ruim, se o Cagney está presente o prazer é garantido. Sempre.

Pie in the Sky (Ralph Steiner, 1935)Esse é da época que o Kazan era comunista. hehehe (Parte 2)

Nota 1: No livro O Século do Cinema de Glauber Rocha tem um capítulo interessante, onde Glauber, como sempre, desce a lenha no cinema do Kazan, mas que, ao mesmo tempo, conta sobre um encontro entre os dois narrado de forma bastante admirável.

Nota 2: Pelos próximos anos Scorsese estará ocupado envolvido com projetos sobre ícones que ele muito aprecia, alternando documentários e cineobios sobre gente como Sinatra, George Harrison e Roosevelt, tio Marty também está com um documentário sobre Kazan na gaveta, a intenção é dirigí-lo, mas veremos se o projeto vai para frente.

Nota 3: Enquanto fazia este post, acho que mudei de opinião, creio que o meu favorito é Um Rosto na Multidão, talvez seja o único filme de Kazan com o qual tenho grande afinidade, seguido de Splendor in the Grass.

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Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

3 comentários em “Centenário de Elias Kazanjoglou – Parte 2

    1. Poxa, eu já vi muita coisa absurda desde que comecei a acompanhar a cerimônia do Oscar, mas esse momento do Kazan foi a coisa mais horrorosa que vi. Foi muito feio aquilo, pior, de gente que nem sequer era nascida nos anos 50 e que obviamente nem tinha noção sobre o que estava protestando.

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