Working with star-actresses is demanding in terms of time and attention, and, yes, coddling, sometimes. People like Streisand and Goldie Hawn require reassurance, and they need to know their imput is valuable and possible. That’s why I don’t think male chauvinists can successfully direct strong females, as Don Siegel found out with Bette Midler in Jinxed! – Howard Zieff
É apenas coincidência, mas aparentemente estou numa fase “grandes diretores parceirinhos às voltas com estrelas de grande ego”, o mote da vez é Don Siegel encontra Sam Peckinpah. Tudo começou por conta de uns problemas cardíacos sofridos por Siegel durante as filmagens de Jinxed! e, apesar de uma comédia de humor negro ter pouco a ver com as escolhas profissionais de Peckinpah, estava lá Bloody Sam para dar uma mão ao amigo e mentor, assumindo teoricamente como diretor de segunda unidade, mas indo um pouco além de tal responsabilidade. Na verdade a parceria dos dois começou lá nos anos 50, quando Peckinpah começou a aprender tudo que deveria com Siegel, mas dividindo a direção, esta é a primeira, última e única vez, se bem me lembro eles não se juntavam profissionalmente desde quando o Peckinpah resolveu ser ator em Vampiros de Almas.
A trama começa basicamente como algo saído de um filme noir: loira fatal, cantora em Las Vegas, é maltratada por marido jogador e abusivo (Rip Torn), mas em dado momento conhece um dos desafetos do marido, o crupiê vivido por Ken Wahl (O Homem da Máfia! céus, que homem lindo) a quem Rip Torn está tentando destruir por meio de “má-sorte” (jinx), uma espécie de “maldição” que certos crupiês sofrem quando de alguma forma não conseguem ganhar do jogador oponente no blackjack, ou seja, o tal do jinx é uma dominação dos diabos que certos jogadores tem o poder de exercer, mais ou menos o mesmo que meu Parmera sofreu no final desse brasileirão.
O tal crupiê gostosão e a maltratada cantora acabam se conhecendo e todo mundo já sabe onde isso vai parar… mas ao contrário do tom mais sério do início do filme, a segunda parte se transforma completamente numa comédia, com direito a cameo do próprio Siegel como o dono de uma livraria pornográfica e porteiro de um peep show. É aí que está o problema, o tom de comédia não foi adequadamente colocado, a coisa parece não pegar no tranco, especialmente porque Ken Wahl e Bette Midler como um casal é de uma implausibilidade extrema, a falta de química é tão evidente que nem é necessário saber que Wahl chegou a dizer que preferia beijar um cachorro do que os lábios de Miss Midler, talvez alguém como a Dolly Parton fosse mais plausível como cantora com ares de loira de cinema noir (e com isso quero dizer apelo sexual!) e pouco tempo antes ela já provara que tinha dom certeiro para comédia com o Nine to Five, se Parton estivesse no lugar de Midler poderia haver mais afinidade entre a equipe e talvez o filme se desenrolasse melhor.
Tudo deu errado não só por conta do resultado capenga que vemos na tela, mas também no set de filmagens, provando que com esse lance de gato preto e má sorte é melhor não arriscar: os protagonistas se odiavam e o diretor sofreu um ataque cardíaco. É impossível imaginar Bette Midler num mesmo set de filmagens que o Sam Peckinpah, é o mesmo que tentar conceber a Barbra Streisand num filme do Russ Meyer, mas num filme do Siegel a coisa não parecia tão despropositada, muito embora o desafeto aconteceu mesmo quanto ao relacionamento de Midler com Siegel, com a diva chegando a tornar público que o diretor era tão hostil quanto Wahl. Anos depois Siegel rebateu dizendo que a experiência de trabalhar com Midler foi “extremamente desagradável”, o que prontamente acredito, afinal, o homem teve problemas cardíacos e se aposentou em definitivo do cinema, marcando o amaldiçoado Jinxed! como seu testamento final, mesmo que o lendário cineasta ainda levasse uma década para perecer.
No mais, sempre há coisas a serem aproveitadas, como a exuberância de Ken Wahl, as intervenções musicais de Bette Midler e o nosso rouba-show favorito que atende pelo nome de Rip Torn, um peculiar espancador de gatinhos e mulheres. A participação de Jack Elam também seria grande se não fosse a presença histérica de Miss Midler, mas como mulheres histéricas era um vício horroroso de boa parte do cinema dos anos 80, acho que pelo menos este lapso há de ser perdoado, especialmente se por outro lado Midler pôde proporcionar o que seria o ponto alto do filme, no melhor estilo “Um Morto Muito Louco” com a devida ajuda do insuperável Rip Torn.
O que realmente aprendemos com Jinxed? Jamais maltrate o gato de seu cônjuge, você pode acabar com veneno no seu whisky e, mais importante, essa mesma regra vale também para cineastas e suas divas num set de filmagens.
Ah, o Homem da Máfia… Saudades…
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Putz, eu assistia O Homem da Máfia e adorava, mas pouco lembro do seriado. Será que vale a pena tentar conferir novamente?
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É, não deve ter sido uma despedida muito digna do Siegel no cinema. E sobre a Bette Midler, tava vendo umas cenas de um outro filme dela daquela época, The Rose (parece que meio inspirado em Janis Joplin), em que ela está fantástica.
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Coitado do Siegel, meio que explodiu uma bomba na mão dele e não tinha o que fazer.
Vi o The Rose e sem dúvida nenhuma é o melhor papel da carreira dela, ela era mesmo uma showoman (é assim que se escreve?) de mão cheia, mas ela era dessas cheias de pitis. Essas coisas sempre me fazem lembrar do Brando, talvez ele tenha sido a maior diva da história do cinema, não lembro de ninguém que tenha mais histórias de pitis de ego inflado que ele e até o Peckinpah sentiu isso na pele na época do Face Oculta… Imagine um western dirigido pelo Kubrick, roteirizado pelo Peckinpah e estrelado pelo Brando? Me dá calafrios só de pensar, mas o Brando tinha que subir nas tamancas e estragar tudo!
Acho que hoje o cinema não tem muito dessas divas, não? Talvez a maior diva do cinema hoje seja o Tom Cruise. Ou ele é só maluco mesmo? hehehe
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O Kubrick passeou por quase todos os gêneros, fico imaginando como ele trataria o western com toda a grandiloquência, visão de mundo e perfeccionismo que lhe era particular.
Sobre o Brando, o livro de memórias dele é uma delicia de ler, muitas das extravagâncias que lhe imputam ele nega (como era de se esperar), em compensação tudo o que ele relata ter feito com o Gillo Pontecorvo nas tumultuadas filmagens de Queimada chega a ser inacreditável.
Mas a história mais curiosa envolvendo a carreira dele (que obviamente ele não menciona no livro) é a de que ele gostava de apanhar nos filmes, parece que foi o Arthur Penn numa entrevista da época do Caçada Humana (onde por sinal o Brando leva uma verdadeira surra) quem primeiro comentou sobre a insistência do ator para realizar pelo menos uma cena de violência sado-masoquista, onde ele pudesse expressar melhor uma forte intensidade emocional. Depois foram olhar em retrospecto a carreira dele e parece que em quase todos os seus filmes há pelo menos uma cena em que ele é maltratado fisicamente, mas não sei onde até onde isso é verdade ou anedóta.
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Comigo aconteceu o contrário, com o tal livro em mãos, comecei a ler, achei meio intragável e parei, quem sabe eu não o leia num momento certo, já que o homem era um grande estudo… o livro faz alguma menção se fora diagnosticado com algum tipo de transtorno mental? Pelas coisas que sei dele é óbvio que ele sofria de algum transtorno, eu mesma tentei visualizar qual seria, mas ele engloba características de vários transtornos emocionais e de personalidade, é meio assustador. E esse negócio de gostar de ser espancado faz todo o sentido e tem muito a ver com a autodestruição inerente dele (tal como o vício em sexo e comida), talvez até tenha sido o que o manteve vivo e, mais importante de tudo, isso é totalmente Barão de Charlus e explica o porquê Visconti queria tanto o Brando na sua versão do Inominável.
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Acho que a única certeza sobre o western do Kubrick é que seria o mais europeu de todos. Parece que as referências dele pro filme eram coisas tipo Van Gogh, valsas vienenses e coisas assim. Mas com certeza seria mais próximo de Glória Feita de Sangue do que dos filmes coloridos dele, ainda mais com o Brando mandando ali (repetindo o papel do Kirk Douglas em Spartacus?).
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Eu gosto de Spartacus, mesmo tendo essa sempre pouco amistosa relação de ator-produtor versus cineasta, aliás, eu gosto muito de Spartacus, especialmente se levar em conta que tenho pavor de épicos romanos, ele é amplamente superior a qualquer um do gênero. A não ser que o Rei dos Reis do Nicholas Ray conte como épico romano e não apenas como “filme de jesus”.
Agora também lembrei do Clint mandando no Cimino na época do Thunderbolt, que ele ficava em cima do Cimino para economizar filme e não repetir takes, talvez o Cimino tenha ficado tão traumatizado com a repressão e por isso deu aquela surtada com o Heaven’s Gate hehehe
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O lance do Spartacus é que dá pra imaginar como seria a versão do Kubrick, baseada mais no Arthur Koestler do que no Donald Trumbo e no livro do Howard Fast: Os escravos se libertariam e tudo mais, mas logo depois começariam a agir violentamente, saquear cidades a esmo e daí seria impossível só simpatizar com eles.
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Ou seja, cairia todo aquele heroísmo unilateral da velha Hollywood de que Douglas fazia parte e daria espaço a seres humanos reais. Muito melhor, é claro.
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