Ignoro o motivo pelo qual Gone to Earth foi um dos maiores fracassos na bilheteria de P & P, o filme é excelente – é o máximo que qualquer cineasta chegou da obra de D.H. Lawrence (embora este subtraia a condição do feminino em danação e aquele a esclareça), em especial porque nem sequer foi baseado num livro do autor, o que nos leva diretamente ao impacto que tal filme teve nas adaptações de Ken Russell, principalmente Women in Love.
Existem uns dez filmes melhores que Gone to Earth na filmografia (tá bom, uns 7 ou 8) de P & P, mas este é o com qual mais me identifico pessoalmente e estou falando de uma filmografia cujo grau de identificação pessoal nunca me ocorreu antes com qualquer outro cineasta. Tudo que mais aprecio no cinema e na vida pode ser encontrado em Gone to Earth: mulheres com uma fulgurosa sexualidade que até a pouco estava adormecida, comunhão simbólica e literal com animais e natureza, maldição por viver através do amor e dos instintos, assim como o sentimento de danação eterna que algumas pessoas carregam dentro de si mas poucos conseguem ver e compreender, orientação quase expressionista por parte de P & P, fotografia e música esplendorosa, e, principalmente, David Farrar canalha e de bigode – o que nos leva à fatídica questão de qual bigode seria mais indecente: David Farrar em Gone to Earth ou Oliver Reed em Women in Love?
Nota: Não confundir esta versão com a mutilação que David Selznick lançou dois anos depois com o nome de The Wild Heart – este comento um outro dia. Afinal, por que P & P se envolveram com aquele tipo?
3 comentários em “24 frames: Coração Indômito (Gone to Earth, 1950)”