Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo

The Good
– Hurley dizendo I have a bad feeling about this
– A Sociedade do Anel enfileirada indo para a Montanha da Perdição – notem até o cajado! Aí são separados e ficam só Frodo, Samwise e Góllum.
– O Anjo da Morte de Dead Like Me: Life After Death – “por acaso” interpretado por Mr Cusick em ambos
– Enquadramento do Locke, Hume e Shepard! Aleluia!
– Concerto homenageando a cena de De Volta para o Futuro onde o baixista vê tudo voltando ao normal
– A volta do penteado supimpa de Heloise Hawking e o regurgitamento do papel de Fionnula Flanagan em Os Outros
– O soco do Sawyer para disfarçar em cena o soco que o Cusick deu no Emerson durante as filmagens do episódio anterior e que o fez ficar realmente de olho roxo, solução semelhante ao de Mark Hamill em Imperio Contra Ataca
– Sawyer & Juliet! Único reencontro que chegou no patamar de Penny & Desmond
– Explicada toda atmosfera estranha de Los Angeles X (AMOLAD total)
– Muitos convidados com presença pesada nesta final, os mais contundentes foram Dante, Tolkien, CS Lewis e Carroll.
– A estrutura da mente continuou intocável até o fim, inclusive com as trocas e assimilações de personagens, o ego colapsou, o super-ego deu um jeito nas coisas e passou para um novo estado evolutivo com novas personagens assumindo tais funções.
– É meio desesperador o quanto Hurley não dá a mínima bola para o Desmond e só quer saber do Jack, aí o Ben lembra que ele tem que cuidar do Desmond, então evoluirá. Acho que a leitura aqui é bastante clara.
– Melhor saída para roteiristas de todos os tempos, com esse final, desculpa-se todo e qualquer diálogo, cena ou construção tosca, é só colocar a culpa na própria idiossincrasia da mente humana.
I don’t believe in a lot of things, but I DO believe in duct tape – frase épica de Miles, O Ímpio
– De forma alguma creio que os roteiristas tenham sido desonestos por nos enganar, na verdade não creio que nos enganaram, eles só não foram tão felizes na ambiguidade quanto Powell & Pressburger
– Christian Shepard supõe-se ser o elemento deus ex machina, mas ainda tenho que pensar sobre isso, talvez não pelo fato do caixão estar vazio desde os primeiros episódios.
– Rá! Tá explicado porque o Widmore morreu dentro do armário do Ben. Tolinho. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa
– Passei os últimos meses pensando se Jack, Widmore ou Benjamin seriam o Próspero Shakespeareano, sobraram Ben & Jack, ainda tenho minhas dúvidas, talvez eles tenham alternado de posição durante todo o seriado, mas na finale a coisa pendeu para o Jack, sobretudo por conta do Jack inner-life.
– Terry O’Quinn se mostrou tão radiante como não se mostrava desde Walkabout.
– Há ambiguidades, as pessoas estão inseridas no contexto existencial de alguém que sempre trafegara entre o “Man of Science, Man of Faith” (ponto de vista singular do Jack, é claro!), o que torna o final mais aprazível para os que assistiam pela ficção científica e não especificamente pela metafísica e mesmo esta deixa livre para inserir que todos personagens são a representação prática de todos os nossos monstrinhos construtores. Na verdade isso é mais uma grande sacada, não é um final definitivo, não é algo preto e branco, há uma razoável difusão de cores por alí, nós sabemos qual é a projeção do Jack, mas não sabemos com exatidão qual seria a dos demais personagens. O que pode agradar um leque maior de espectadores conforme as suas próprias crenças subjetivas e grau de culturalidade, especialmente a niilistas. Por outro lado vê-se simbologicamente a cosmologia budista e os aspectos do vedanta (sobretudo na parte da Ilha – Huxley & Hesse, again), mesmo a sequência final se passando na igreja de CS Lewis.
– Passamos o seriado todo pensando se a Kate seria mesmo a extensão do Jack, curioso que a gente só tem certeza disso quando nos últimos momentos ela assume o papel dele na destruição do Smokey, nada como o bom e velho feminino vingativo.
– The Great Whatsit! Caçadores da Arca Perdida! Yes! Pelo menos essa parte do final foi exatamente como eu queria.
– O grau de cultura também acaba explicando muito das personagens sobre papel deles no reflexo de construção da própria Ilha, Hume era um leitor voraz da literatura européia, o que explica porque a maior porcentagem de referências da ilha serem oriundas da literatura britânica, ou o caso da ligação de Hurley com Star Wars, ou Sawyer com qualquer porcaria ou a boa literatura americana, ou Locke e sua tendência à expansão metafísica da mente, ou Benjamin com o Mágico de Oz, Xadrez e Napoleão.
– O final como o começo. Claro.

The Bad
– Malditos cristãos bregas estragando um puta de um potencial. Custava deixar como AMOLAD, ficção científica travestida de gente morta e não gente morta travestida de ficção científica?
– Adolescentes dos anos 80 filhos de uma puta que ficaram frustrados com o suposto final de Caverna do Dragão e tentam estuprar novas e até antigas gerações por conta disso.
– Ó céus, transformaram a final num capítulo da atual novela das seis na Globo. Ugh.

The Ugly
– Preferia que tudo terminasse se passando na mente do cachorro. Sério. Mentira.
– Não é um bom episódio, não foi épico, mesmo sem a cafonice final. Pior, vai estragar minha visão de episódios sensacionais como Happily Ever After (títulozinho filho da puta).
– A Minha depressão pós-parto de natimortos. Fiquei tão feliz que passei o seriado todo sem enviuvar do Sawyer e do Desmond – aí fazem isso comigo! Duplicam e destroem.
– Será que minha frustação não seria por ter acreditado que Darlton eram melhores do que realmente são?
– Penny Milton, quando ouvi isso no HEA pensei: Que bacana, Paraíso Perdido! Precisavam levar ao pé da letra?
– É mencionável o absurdo de Martin Gardner ter morrido no dia anterior, na verdade o funeral era dele.

The work of a hundred years are destroyed in one single night. – Huxley no final de errr… Island

Não posso dizer absolutamente nada até rever toda a série e isso vai levar alguns anos, mas nada vai tirar essa minha angústia de ver a falsa esperança de uma vida pós morte redentora simbolizando o nosso purgatório pessoal do dia-a-dia. Sim, apesar dos momentos finais envolverem grande sincretismo religioso, o cara que está lá se chama Christian Shepard, por mais que o paradoxo de Alice se adeque à cosmologia budista, o coelho branco é representado por um cara chamado Christian Shepard e isso torna as coisas mais literais do que eu realmente gostaria de ver. Isso foi um choque porque era a estrutura óbvia do seriado desde o princípio e de qualquer saga heróica cíclica e foi chocante justamente porque não seria possível que fizessem algo tão óbvio, aí está o problema, ela foi literal, pegue coisas como As Crônicas de Nárnia e O Senhor dos Anéis dois dos mais profundos estudos do cristianismo do século XX em forma de saga heróica cíclica (coisas como Star Wars e Matrix tendem a se orientalizar mais), por mais óbvias que as analogias possam ser, ainda lhes são dados uma mitologia própria num mundo à parte, em Lost isso não ocorreu, as personagens com quem nos importamos por todos esses anos são pessoas como nós num mundo supostamente como o nosso, o grau de projeção aumenta consideralmente quando nos identificamos com elas porque nenhuma é um leão, uma feiticeira ou um elfo e quando vemos personagens assim sem um fator para nos distanciarmos delas e a vermos como símbolos projetivos mais próximos de nossa realidade a última coisa que se quer é pensar que não existe esperança nesta vida, mas pode haver numa próxima, quando o imaginário Cristão nos livros de Lewis e Tolkien aparecem, por mais óbvios que sejam, nós conseguimos vê-los através de nuances simbólicas e não com alguém dizendo você está morto, seu palhaço, por mais que Christian Shepard seja terminantemente análogo ao leão Aslan dos livros de Lewis em sua representação divina. Putz, quero encontrar o meu próprio ciclo evolutivo neste nosso pequeno purgatório atual e ver um seriado que acompanhei durante seis anos colocando isso literal e verbalmente no último moemnto, por mais que isso possa representar outras n zilhões conceitos filosóficos que não o óbvio, enquanto, me deixou deveras deprimida. Portanto, meu desgosto com a final pode ser sim meramente pessoal, mas filmicamente aqueles minutos parecem ter saído de uma novela da Globo e isso, minha gente, não tem nada de pessoal.

Nota: Vou adicionando coisas conforme irei me lembrando, embora devesse assistir de novo com legendas (às vezes tenho dificuldade de entender o que o Hume fala), mas quero ficar longe dessa coisa por um bom tempo.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

4 comentários em “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo

  1. Gostei sim, a lots. Cada temporada veio com um mistério novo que faz andar especificamente a temporada em questão (botão da sequência de números, flashforward, viagem no tempo…). O dessa foi o flashsideways. A 6ª temporada teve duas conclusões: a do flashsideways (brega) e a da ilha, DE TODA A SÉRIE, que foi sensacionalmente espetecular, ali COM AS GRANDES COISAS DA TV. Sério, se alguém editar essas duas horas e deixar só a ação da ilha, as coisas ficam mais emocionantes. Sempre que penso no mano a mano do Jack e do Lock, até mesmo do pedido do Hugo pro Ben de ajudar na guarda da ilha, fico arrepiado. Pensando bem, se editam toda a sexta tempora e cortam fora o flashsideways, Lost não sofre nadinha. Pena que justo o mistério específico da sexta foi o menos legal. É como o final de Atonement, lembra? Bem, de quase tudo em que os autores não têm coragem de deixar a tragédia inerente ao mundo real finalizar uma obra de ficção. Porque o Jack morrendo e um grupo totalmente inesperado de pessoas saindo da ilha (nunca na história dessa dimensão imaginei que o Milo, o Lapidus, Crazy Claire, Kate e Sawyer fariam parte do único entourage que deixou a ilha de vez) é bem VIDA REAL saca? Faz sentido e vai contra todas as expectativas alimentadas pela ficção tronchinha desses dias.

    Minha mãe (obriguei-a a assistir o ultimo ep. comigo, ela passou seis anos vendo eu e a minha irmã se arranhando na frente da tv, tinha que ver ao menos o final) gostou bastante da luta do Jack com o Lock também (ainda perguntou como eu aguentava assistir essas coisas violentas né); mas ela gostou mais ainda de todos os momentos touch too much, mesmo sem entender o que os pares tinham passado pra chegar onde chegaram. Foi o ep mais mulherzinha de Lost. As soluções foram muito fáceis para suscitar emoções baratas: troca de olhares, o toque, beijinhos, abraços. Bem fácil. Mas na ilha, as coisas seguiram da melhor maneira criada por Lost: sem muita falação (as coisas têm que ser mostradas, não detalhadas por diálogo, isso é tipo a essência maior da imagem saca [bobo vá lá, mas é ne]), com pessoas agindo imparavelmente.

    Lost, equando entretenimento, suscitou umas reações bem raras. Nunca me esqueço do terror mesmo que senti quando o barco dos outros sequestrou o Walt, no fim da primeira temporada. E em outros momentos milz aí. É um clássico, mas um com falhas & que tais. Pode parecer contraditório, um clássico com falhas, mas Lost conseguiu ser inédito até nisso.

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    1. Cara, não acho que o final na ilha seja bem real, muito pelo contrário seguiu aquela linha feliz do Great whatsit do Caçadores da Arca Perdida (na verdade fico bem feliz que eles seguiram uma linha lógica de narração – como espalhei por todo blog há meses), se é o caso de todo mundo sair da ilha porque chegou ao fim a projeção coletiva de purgação, cada um saiu dela da maneira que melhor lhe vestia, Milo, Lapidus, Kate e Sawyer saíram de avião porque este seria o único tipo de crença possível em sua evolução, só a frase do duct tape do Miles já diz que aquele era o avião dos Ímpios (inclui-se aí a Claire sem rumo e o Richard sem chão), Ben saiu aceitando ser o segundo em comando, Hurley saiu aceitando a responsabilidade de comando, Jack saiu finalmente tendo fé e sendo o herói, Desmond saiu porque ele era o maldito piloto no sonho do Locke, ou seja, desde o princípio era ele quem deveria tirar todos dalí, Locke saíu aprendendo que a expansão da mente deveria ter o tempo e limite certos, etc etc etc… Sem flashsideways? Aí o seriado todo perderia todo o sentido desde o princípio, sobretudo do ponto de vista junguiano (sem falar em todas n corentes filsóficas, presentes), como saberíamos quais são as projeções do que e de quem em cada momento evolutivo? Como saberíamos do karma envolvido? Por aí vai… meu único problema é que queria uma cena diferente para a junção no “up”sideways, queria uma junção menos centrada no dogma dominante, embora o ponto de vista presente alí seja exclusivo do Jack, o que quer dizer que poderia ser justamente aquelas agruras do homem de ciência versus o homem de fé que lhe permeou por todo o seriado, o pai dele seria então a projeção para que pudesse evoluir e a projeção das outras pessoas podem ter sido completamente distintas dessa idiossincrasia da mente de Jack. É, é brilhante mesmo.

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  2. A tua justificativa me convenceu. Espera, deixa eu explica melhor: me convenceu porque faz sentido, mesmo eu não sendo possuidor de toda a gigante bagagem referencial citada. Certamente por isso levei o flashsideways em baixa conta. Continuo me apegando à ideia de softerização do final, amanciamento de decepções com as emoções finais e tudo mais. Por isso vi poucos pontos de intersecção entre a ilha e a projeção coletiva (cê tá lendo isso e pensando “SAY WHAAAAAAAT?”). Mas a gente dá cabo dessa conversa em alguma mesa de bar um dia desses :)

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