The Knack… and How to Get It (1965)

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Por alguma razão os belgas acreditavam que Bardot estava no filme?

Em primeiro lugar, me recuso a chamar este filme pelo título brasileiro: A Bossa da Conquista, nessa nossos companheiros portugueses foram muito mais felizes na escolha com um Lições de Sedução, que exclui a engenhosidade cool do título original mas não o nacionaliza temporalmente. Um filme passado em Londres com direção de Richard Lester não soa como A Bossa da Conquista, mas sim um filme dirigido por Domingos de Oliveira ou Roberto Farias, não por acaso ambos diretores brasileiros foram intensamente influenciados pelo cinema de Lester.
É isso que importa: o cinema de Richard Lester. O auteaur, o Godard inglês nascido nos EUA eximido da pretensão e fatalismo francês e imbuído da verve nonsense britânica, este pai de Terry Jones e Gilliam e filho adotivo de um Samuel Beckett com senso de humor. Palma de Ouro em Cannes à parte, The Knack está longe de ser o melhor filme de Lester e mais longe ainda do seu pior. Há momentos em que não se pode deixar de lembrar de Godard e a cena da cama com rodinhas na rua é quase uma corrida pelo Louvre ou um desvairado Pierrot Le Fou, mas a grande sacada é a conjectura feita em cima da sociedade inglesa dos anos 60, está tudo lá, citações à mods e rockers, a velha guarda conservadora hipócrita quanto à sua juventude e o quanto a própria juventude poderia se mascarar em trivialidades modernas.
A empreitada se faz com trilha sonora jazzistística do onipresente compositor bretão John Barry, elenco transbordando talento com Ray Brooks completamente extasiante na pele de um mod por excelência, Rita Tushingham como a virgem histérica e apaixonante, Donal Donnelly quase como a versão cômica inglesa de Jean Pierre Léaud e Michael Crawford, um dos atores-fetiche de Lester, como um neurótico professor. Da edição típica dos filmes de Lester entranhada ao nonsense desse pedaço de cinema encantador faz-se uma sátira sexual com grande ênfase no amor, é quase que uma ode à pulsação, desses filmes que o fariam sair sorrindo da sala continuando com uma propagação sem fim de bem estar.
Mas o que fica mesmo é o sentimento de VERGONHA, VERGONHA DAS GRANDES, por Richard Lester não ser reverenciado como deveria, como o cineasta autoral que era, como o grande criador do que entendemos hoje por humor inglês em movimento. Que o diga Todd Haynes e sua clara homenagem a Lester em I’m Not There ao lado de gente como Fellini, Godard e Bergman, além do livro que Steven Soderbergh publicou tentando colocar o quão importante foi a obra de Lester para a história da sétima arte. Prova que alguma justiça ainda há no mundo.

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Nota: Sabe quem trabalha como extra nesse filme? Jane Birkin, Jacqueline Bisset, Charlotte Rampling e a maior musa da música britânica de todos os tempos: Pattie Boyd. É mole? Tá, Pattie “Layla” Boyd não é nenhuma novidade, ela já fora extra em A Hard Day’s Night, onde conheceu George e o resto é história.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

5 comentários em “The Knack… and How to Get It (1965)

  1. É, logo que vi o poster pensei na Bardot.
    E essas descrições do cinema do Lester foram babacas, só pra todo mundo correr atrás dos filmes.

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  2. Preciso ver esse filme! do Lester só conheço mesmo os filmes que ele fez dos Beatles, mas já ouvi falar de sua importância na transmissão de características da Nouvelle Vague para o cinema Norte-Americano.

    Ps.: fugindo completamente de assunto, esse caso dessa menina, Isabela, que aparentemente foi jogada de um edifício é absurdo e ao mesmo tempo cinematográfico, não parece que esse caso saiu de um filme do Hitchcock ou de uma série do David Lynch? E a forma como a mídia trabalha com esse tipo de informação me causa certa angústia, estava somente desabafando, não dê importância! Hehehe. Obrigado pelo comentário sobre o Blog.

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  3. Nem foram, hehehe, já que é pouco provável que alguém concorde comigo, se até agora não colocaram o home no pedestal que lhe é de direito, não é meia dúzia de descrições babacas que lhe farão justiça. O que eu queria dizer mesmo é: todo mundo adora Monty Python, mas foi o Lester que criou a fórmula.
    O foda desse lance da Bardot é que não há nenhum momento nem ninguém que lembre vagamente esse pôster, é meramente apelativo para dizer que o filme é sobre sexo e nada mais. Já o pôster abaixo é sensacional, com as mulheres magnânimas, porém etéreas, que fazem parte dos delírios de alguém, dando ênfase aos protagonistas, mostrando que é um filme sobre sexo, mas também sobre algo mais.

    Rick, cara! Os filmes com os Beatles são completamente obrigatórios! Ó deus, como amo o Ringo! Tem um povo que costuma dizer que os Beatles sob o comando de Lester são a transição dos Irmãos Marx para o Monty Python e é bem isso mesmo, mas se for avaliar a maior coisa que o Lester fez pela cultura pop, o que mais teve importância foi mesmo o trabalho dele com os Goons na transição do rádio para a TV, foi uma coisa tipo “quebra-tudo” e de repente ele viria a ser o pai espiritual de coisas como o Flying Circus e de tudo que apareceu no humor britânico a partir dos anos 60… Inclusive ele chegou aos Beatles porque eles eram muito fãs do trabalho de Lester com os Goons, um dos filmes queridos do John Lennon era esse curta: http://br.youtube.com/view_play_list?p=66F94F664013D1DF
    Você tocou no ponto, há duas semanas estou completamente obcecada com esse caso e sabe por quê? Porque simplesmente me pareceu num primeiro momento um episódio de Lei & Ordem ou CSI e adoro assistir episódios isolados desses seriados, só que agora virou uma minissérie e daqui a pouco vai virar um seriado com várias temporadas justamente porque a mídia o ajudou a transformar em novela e como não tenho muito saco para coisas que se prolongam em demasia já estou cansando também. E acho que isso é quase um comportamento comum das pessoas, de ficar acompanhando como se fosse um episódio eletrizante de CSI e a mídia em geral acaba virando aquele lance de Rede de Intrigas, tratando um caso sério, mas casual, pois esse tipo de coisa acontece todo dia desde o início dos tempos, e transformando-o em um show de TV com mesas redondas, altas discussões, âncoras apocalípticos e muito patrocínio financeiro.
    Aliás, Lei & Ordem é cheio de fazer episódios baseados em casos verídicos que aconteceram por aí, aposto que se os roteiristas da série se interaram do acontecido aqui na senzala, logo logo vai haver um episódio com acontecimentos semelhantes adaptado ao “infalível” sistema de justiça americano.

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  4. Ah, que lindo! A menina e o porquinho é total minha infância… E esse fim de semana tive que salvar um gatinho de rua que ficou preso dentro do motor de um carro, meu braço esquerdo está todo machucado por causa do motor… Você não faz idéia do escândalo que dei na rua por causa desse gato, normalmente sou muito discreta, mas se tivesse um machado em mãos provavalmente sairia cortando cabeças para salvar o gato.

    PS desesperado: ando sem óculos e não posso assistir, cozinhar, ler, ir ao cinema, escrever etc etc Aff…

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