Arquivo X: Jose Chung’s From Outer Space (The X-Files, 1993-2002)

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.Depois da decepcionante volta aos cinemas do meu, do seu, do nosso “Spooky” Mulder, nada mais prazeroso do que lembrar os melhores momentos do mais sensacional episódio do seriado, o totalmente alucinado e cômico Jose Chung’s From Outer Space. O que mais me deixa frustada quanto ao seriado, foi o fato do roteirista deste entre outros dos melhores episódios, Darin Morgan, ter escrito tão pouco. O meu segundo episódio em preferência é o não menos infame e também escrito por Morgan, War of the Coprophages, no melhor estilo “O ataque das baratas assassinas do espaço sideral”. Há outros do Morgan de que gosto bastante como aquele com a participação impagável de Peter Boyle, Clyde Bruckman’s Final Repose, uma outra grande homenagem ao cinema só que agora pendendo mais para o cinema mudo, ou ainda aquela declaração de amor a Tod Browning no episódio Humbug com direito àquele maldito anão de Twin Peaks e Carnivale.GILLIAN ANDERSON - THE X FILES - ROLLING STONE
Ok, Dana é ótima, mas não preciso pensar duas vezes para entender que sempre fora meu companheirinho arquetípico a chamar minha atenção e que Fox Mulder é o segundo melhor agente do FBI da cultura pop, só perdendo para o eternamente inatingível Dale Cooper de você-sabe-qual-série. O complemento de Scully e Mulder não é só necessário para arrematar a narrativa, como foi essencial para que a série fizesse sucesso com a perfeita união do manter os pés no chão de Dana para com Fox e o abrir de mentes de Fox para com Dana, algo que deveria ser mais comum no nosso dia-a-dia, mas que infelizmente pouco acontece por mero preconceito, superficialismo e crença em verdades absolutas.
Arquivo X foi uma das pouquíssimas séries que conseguiu prender a atenção do meu irrequieto espírito juvenil, não a ponto de acompanhá-la religiosamente, mas ao menos de lembrar de ligar a tv para assistí-la nas noites em que era exibida na Rede Record. É também o segundo melhor seriado americano dos anos 90, só perdendo para aquele você-sabe-qual e com lugar cativo naquela galeria seleta de culto de ficção científica ao lado de Jornada nas Estrelas no passado ou atualmente Lost. Seriados de grande sucesso hoje como Heroes, Lost, 4400, Supernatural muito devem a Arquivo X, este seria quase como o objeto de transição entre tais seriados e coisas passadas como Twilight Zone, Invaders, Kolchak (o original) e Alfred Hitchcock Presents.
Arquixo X estruturou-se de forma peculiar, alternando episódios que seguiam uma lineariedade factual sobre alienígenas e outros episódios isolados sobre outros mitos como pé grande, vampiros, lobisomens, zumbis, bruxas etc, mas o grande mistério essencial da série girava mesmo em torno dos alienígenas e a invasão dos mesmos no Planeta Terra. O seriado é uma grande homenagem ao cinema B de ficção científica e horror, o clima de constante paranóia que assolou o gênero nos anos 50, de Don Siegel a Jack Arnold até o mais puro e delicioso trash a lá Gerardo de Leon, Bert Gordon, Roger Corman e Kurt Neumann, não deixando de avançar em homenagens claras à John Carpenter, Steven Spielberg, Tod Browning, James Whale (no também sensacional The Post-Modern Prometheus), Alfred Hitchcock, Nicolas Roeg, e Ridley Scott dos bons tempos, entre outros, especialmente em torno de Silêncio dos Inocentes, cujo personagem de Jodie Foster serviu como molde para o de Gillian Anderson, com sobras até para o melhor cinema conspiratório como Todos os Homens do Presidente, JFK, Sob o Somínio do Mal, A Conversação, Blow Out e Up. Até A Última Tentação de Cristo e Rashomon acabam por ter o seu pedaço desso bolo gigante, no caso do último através do vampiresco e ótimo Bad Blood.
O que me faz gostar tanto do Mulder é sua mente aberta sem nunca deixar de ser desconfiado e lógico, muito de qualquer tipo de iconoclastia é vulgar e irracional, pelo simples fato de tentar “debunkar” algo, de que é necessário uma prova irrefutável, mas tal prova não é encontrada também do contrário, muitas vezes esses mesmos que se proclamam tão racionais são os de atitude mais ilógicas e beirando ao fanatismo, particularmente não vejo distinção alguma entre um fanático religioso e um fanático cético, ambos estão tão imersos em suas próprias verdades que não conseguem ver nada além de seus umbigos, cá entre nós não dá para chamar de racional e lógico alguém que defente ferrenhamente a inexistencia de qualquer coisa sem as mesmas provas que este tipo de mentalidade tanto proclama. O Mulder é lógico, mas para os padrões gerais ele é um “spooky” porque não ousa fechar sua mente para possiblidade alguma, acredita em tudo até que lhe provem o contrário, porque apesar da verdade estar lá fora, é bem difícil conseguir enxergá-la.

Nota 1: Sabe o que é mais estranho ao ver aquele longa praticamente uma década depois? É que justamente agora quando finalmente David Duchovny havia sublimado a aura de Fox para o público e se convertido no inesquecível Hanky Moody, o desgraçado volta ao Spooky. Por falar em Hank Moody, cadê a segunda temporada de Californication, jesuis?

Nota 2: O número do apartamento em que Mulder morava era 42. Claro.

Nota 3: Também nunca é tarde para relembrar a união dos dois melhores agentes do FBI dos anos 90 em Twin Peaks: Dale Cooper e Fox Mulder, no caso do último, ele ainda era da Narcóticos, travesti e dava uns apertos na Laura Palmer, o que não deixa de ser ainda mais memorável.

Nota 4: Eu juro que vi o John Locke e o Benjamin Linus em Arquivo-X. Eu Juro. Terry O’Quinn teve a petulância de interpretar 3 personagens diferentes durante a série, todos devidamente abigodados, incluso no longa de 1998 quando descobrimos onde arranjou aquela mania estranha de explodir tudo para um “bem maior”. E, céus, Michael Emerson foi um telecinético. O bacana é que o Locke é uma espécie de Fox Mulder de Lost, enquanto o Ben é tão memorável quanto o até então melhor vilão dos seriados de sempre: o Canceroso. Vai ver por isso são os meus preferidos.

Nota 5: Darin Morgan, o roteirista dos melhores episódios do seriado não foi apenas o mais inesquecível na escrita, ele também encarnou o tipinho mais repugnante e impressionante das nove temporadas: o Homem-Platelminto Mutante. Depois Morgan acabou voltando como ator no ótimo Small Potatoes, onde passava a perna no Fox e chegou mais perto da Scully do que ele em todos aqueles anos.

Nota 6: E um dos melhores episódios dos Simpsons, The Springfield Files, contém além das literais participações de Fox e Dana, foi apresentado por ninguém menos que Leonard Nimoy e com direito a participação velada do Canceroso. Ambos os seriados iam ao ar nas noites de sexta na Fox e a homenagem foi retribuída em Arquivo X na forma de um empregado de uma Usina Nuclear que ficava dormindo no serviço e atendia pelo distintíssimo nome de Homer.

Publicado por Adriana Scarpin

Bibliófila, ailurófila, cinéfila e anarcafeminista. Really. Podem me encontrar também aqui: https://linktr.ee/adrianascarpin

7 comentários em “Arquivo X: Jose Chung’s From Outer Space (The X-Files, 1993-2002)

  1. oi Dri,

    Vo~e acredtita que eu nunca fui muito fã do Arquivo X?

    Eu não tinha muita paciência com todo aquele papo de complô ET.

    Eu gostava quando havia uma investigação sobre algo que não se relacionava com o complô ET.

    Até um Etezinho fora do complô eu aceitava.

    Por isso assisti poucos. E dos poucos, o que me lembro bem é aquele em que eles enfrentam um mutante que come fígados e hiberna.

    Mas acho que vou recorrer a alguns DVDs e rever , com outra paciência.

    Na Verdade, eu não tenho muita paciência para ;” na próxima semana outro mistério para ser resolvido”

    è, eu também me não sou muito fã do Lost.É mistério demais para mim. Vou esperar sair todos os DVD, dai alugo e pronto, nada de aflição. hehehehe

    abs

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  2. Vi muito pouco de “Arquivo X”, por causa de horário, dia de exibição… Mas do pouco que vi, gostei bastante.
    Dale Cooper é o máximo – ainda preciso fazer e postar uma torta de cerejas em homenagem a ele.
    E menina, aquela capa da RS ficou algo, hein? Achei maravilhosa!

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  3. curioso você ter escrito isso sobre religião. no momento eu estou lendo deus, uma ilusão do richard dawkins e não posso deixar de pender mais para o lado do ceticismo irracional ao mesmo tempo que as teorias cientificas mais recentes me deixam maravilhado quase como um religioso. quanto ao duchovny, eu li em algum desses blogs sobre televisão que californication tinha sido cancelado. tomara que não.

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  4. Léo, esses que citei como os melhores são justamente fora do “complô ET” hehehe O que me irritava naquilo era o Foxy gritando Samantha para lá e para cá, mas putz o complô et é muito foda se visualizado com todos os detalhes, além do mais, sem o complô et não existiria o Canceroso e o homem era demais.
    Eu gosto dessas coisas, porque sou mesmo maluca por teorias da conspiração… Lembro do cara comedor de fígado, ele foi tão bom que chegou a voltar em outro episódio.

    Patrícia do céu! Outro dia procurei desesperadamente uma torta de cereja viável para fazer porque encanei que precisava comer a torta do Dale Cooper, achei a tal da receita só que precisava do tal do crisco para a massa, frustrei, queria uma igual a dele. E olha que bacana, nesse Jose Chung’s From Outer Space tem uma cena em que o Mulder come e come tortas enquanto está investigando, se não me engano não são de cereja, mas não deixa de ser uma brincadeira com seu maior rival de culto.
    Sempre achei que a Rolling Stone era a revista que tem as melhores capas e na boa, acho que esta é a melhor capa da história da revista, ficou perfeita e a Gillian lindíssima

    Fred, Na verdade eu não falei sobre religião em si, mas sobre ceticismo em geral, no caso da Dana e do Fox, por exemplo, ele acredita em tudo menos em Deus, a Dana não acredita em nada, só em Deus, mas no final todo mundo acaba por acreditar que os deuses eram mesmo astronautas, hehehe
    Eu sei como é ler Dawkins, ele é meio barra pesada, acho que esse lance é muito delicado, nem é uma questão de crer ou não crer, é um mero lance de perspectiva, se você olha pela perspectiva de Jung as crenças em geral ficam tão mais bacanas… Dá uma olhada depois no Despertar dos Mágicos do Bergier e Pawls para dar aquela rebatida no Dawkins… O lance é sempre rebater um extremo com outro, para não se perder numa coisa só…
    Que isso Fred, eu queria saber quando estréia a nova temporada de Californication, vai ter sim, quase a temporada inteira já foi filmada, mas nada de ir ao ar… Tô com saudade do Hank…
    Ah, me manda aquilo que tu me falaste no outro comentário para o e-mail dharmabumico.

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  5. genial seu post. para uma autentica eXcer de carteirinha, levou lagrimas aos olhos…

    bem que eu queria que o segundo filme tivesse sido a altura… =~

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