Conheci Albert Einstein através de um de seus alunos, Dr Hopf se me lembro corretamente. O Professor Albert Einstein foi meu convidado para jantar em muitas ocasiões… Estava ele começando então a desenvolver a sua primeira teoria da relatividade. Procurava instilar em nós os elementos dela, com maior ou menor grau de êxito. Como não-matemáticos, nós, psiquiatras, tínhamos certa dificuldade em seguir sua argumentação. Compreendi, no entanto, o suficiente para formar uma poderosa impressão de Einstein. Foi, sobretudo, a simplicidade e franqueza de seu gênio como pensador que me impressionou de modo irresistível e exerceu uma duradoura influência sobre o meu próprio trabalho intelectual. Foi Einstein quem primeiro me levou a pensar numa possível relatividade tanto do tempo quanto do espaço, a sua condicionalidade psíquica. Mais de trinta anos depois, esse estímulo propiciou o meu relacionamento com o físico Professor Wolfgang Pauli, e a minha elaboração da minha tese sobre sincronicidade psíquica. Quando Einstein mudou-se de Zurich minha relação com ele cessou, e dificilmente penso que ele tenha qualquer lembrança sobre mim. Alguém pode apenas supor o imenso contraste existente entre a matemática e a mentalidade psicológica. Uma é extremamente quantitativa, enquanto a outra é apenas extremamente qualitativa.
Carta de Carl Gustav Jung a Carl Seelig
25 de fevereiro, 1953
Isso não é nada, importante mesmo foi quando Adler, Freud e Jung jantaram com o Dr Jones: Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.Como sempre, os dois patetões eclipsando o Adler…
Eu queria muito saber o que o Jung achava (ou acharia) de certos filmes. Sei que ele gostava de O Estudante de Praga, mas mesmo assim só li elogios à “magia do cinema” no geral.
Sempre acho que 2001 deve ser a expressão mais clara e direta de algumas coisas que ele investigou, e que O Iluminado tem muito do que ele começou mas não chegou a “terminar” – ou pelo menos atingir o nível de desenvolvimento que parecia querer; essa parte de sincronicidade, relatividade do espaço e tempo, etc. Já devo ter te falado, mas acho dois filmes quase complementares (naquelas viagens de dividir a filmografia dele em grupos, se começar a falar disso já era, qualquer comentário meu aqui cai em Kubrick!).
E não sei se já leu o que o Jung escreveu sobre o Ulisses do Joyce. Teoricamente ele não gostou e tudo mais, mas teve um impacto tão grande sobre ele que precisou escrever várias páginas sobre, uma carta pro Joyce, etc. Tem um livro (Espírito na Arte e na Ciência?) com esse texto e mais um sobre o Picasso, seria legal ter algo sobre cinema também.
Ok que metade dos meus comentários aqui caem nos filmes do Kubrick, mas não posso evitar!
CurtirCurtir
Li os bagulhos do Joyce e na verdade estou há tempos para transcrever todo um trecho de um livro que fala bastante sobre a relação tempestuosa entre Joyce e Jung, especialmente quanto ao fato da filha esquizofrênica do Joyce ter sido tratada pelo Jung, mas é meio longo e tenho que estar disposta a tanto – reza a lenda que o Joyce lia para todo mundo aquela carta que Jung escreveu pra ele, todo orgulhoso por ter deixado o doutor meio transtornado com o livro dele. A verdade é que o Joyce não gostava muito desses “doutores da mente”, ele conheceu Lacan mas também não deu muita entrada pra ele, apesar deste achar que Joyce era o seu duplo. Freud achava que o Schnitzler era o seu duplo, Lacan que era o Joyce, será que posso escolher um escritor com quem me identifico e dizer que é meu duplo também? hehehe
Hoje revi aquela coisa extraordinária chamada Narciso Negro do Powell/Pressburger e é impressionante o quanto ele tem em comum com O Iluminado (e não estou falando só da cara de lunática da Sister Ruth que é praticamente a mãe do Jack Torrance ou do extremo perfeccionismo que P/P dividiam com Kubrick), como o Jung não mais vivia nesses tempos kubrickianos, seria bem legal se ele tivesse escrito alguma coisa sobre o Narciso Negro – até poderia dar uma olhada geral nos filmes de Powell/Pressburger, mas nenhum deles é tão intrinsicamente psicológico quanto Black Narcissus.
CurtirCurtir
E eu nunca vi nenhum filme deles! Mas já vou mudar isso, torrent trabalhando aqui.
CurtirCurtir
Se você assistir Black Narcissus, depois leia este texto:
I find your discourse on the Tandav Dance of Shiva compelling as I recently watched Michael Powell’s and Emeric Pressburger’s film “Black Narcissus”. (“Black Narcissus” is one of my all-time favorite films, of course). Close to the end of the film, as Sister Ruth flees down a corridor, she disturbs a lace curtain that reveals a statue of Shiva (Nataraja). At this point, Powell and Pressburger have exposed their allusions and metaphors. Sister Ruth’s resurgent sexuality has also inspired the impetus to destroy the convent and murder her Superior Sister Clodagh. From a psychoanalytical perspective, the freeing of the repressed sexuality is almost comical in its Freudian clichés. Nevertheless, I think the image of Shiva (Nataraja) works on a much deeper level in the film. Otherwise, I would not care for this film as much as I do.
I have learned sansara mithya from my classes in Eastern Religions in college. Sansara mithya, if I remember correctly, means the visible world is a counterfeit. In “Black Narcissus”, there is a holy man, who remains transfixed on a precipice staring out over the Himalayas. He is Atman and Braham. He is indifferent to all mundane activity about him. He sees through the visible, sensual world, which the nuns cannot escape. The Himalayas only remind the nuns of a sensual past they thought they had escaped.
Freudian clichés aside, the movie suggests that to experience Shiva (Nataraja), one is hurried through experiencing the riches of the unconscious. All that is wild floats to the surface of conscious awareness but it is also needs to be understood in a new and objective way or we may perish (more of a Jungian perspective). One experiences the birth of knowledge as the uplifted left foot grants eternal bliss to those who embrace Shiva (you need to make the first step, correct?, one needs to be open) and the other treads firmly upon the dwarf of ignorance, allowing the birth of knowledge (we need to identify our own shortcomings and patterns that block creativity).
At the end of “Black Narcissus”, Sister Ruth does try to kill Sister Clodagh (the obstacle to her happiness) but she is also Clodagh’s shadow rising to the surface. And ironically, the unconscious monster, Sister Ruth, becomes the symbol of mourning, the one who perishes to unconscious forces. But then Powell and Pressburger move clouds over the Himalayas as if they were a mirage, that what Sister Clodagh has experienced was a mirage and unreal. As quickly as she has gained knowledge, it seems to slip away, seemingly to suggest she has had a glimpse of sansara mithya.
Encontrado no blog do Shekhar Kapur: http://www.shekharkapur.com/blog/
CurtirCurtir